quinta-feira, novembro 14, 2013

LEFFEST 2013 (dia 7)


É tudo menos um filme de vampiros (no sentido “filoneano” do termo) o novo Only Lovers Left Alive, de Jim Jarmusch, que ontem teve antestreia nacional no Cinema Monumental, não estando ainda revelada a sua data de estreia comercial entre nós. Esteve presente na sala, para apresentar o que iríamos ver, a cantora Yasmine Hamdan, que surge numa sequência musical do filme.

Os protagonistas, interpretados por Tilda Swinton e Tom Hiddleston, são um casal de vampiros que por aí anda há séculos, ela vivendo em Tânger, ele em Detroit. Têm um conhecimento alargado e profundo das coisas da ciência e da arte, ele sendo um músico que, agora na era do YouTube, coleciona e toca com guitarras elétricas do século XX sendo, que, em tempos deu um adágio de um quinteto a Schubert (rara ocasião para alguém, com uma vida tão afastada quanto possível dos olhares do mundo, ver a sua música apresentada e comentada).

Dar dentadas é “coisa tão século XV” para quem vive no século XXI, num tempo em que os vampiros recorrem às reservas dos hospitais (e a subornos e médicos corruptos) para se alimentarem. Quem procurar dentadas e sustos procure, desde já, outro filme. Only Lovers Left Alive na verdade vive mais da música (de uma soberba banda sonora com sabor elétrico vintage) e das ideias que de uma trama feita de encadeados de situações. Através dos dois protagonistas (e da tempestuosa visita de uma irmã, que acrescenta pontuais “acontecimentos” a um filme essencialmente tranquilo) discute-se o mundo em que vivemos, o Homem (“zombies”), como lhes chama Adam, a história dos seus feitos artísticos e científicos, mas também o seu ceticismo e frequente cegueira perante os reais problemas que enfrentamos coletivamente.

Este é também um filme sobre uma cidade moribunda (Detroit), que a câmara visita em travelings noturnos. E também sobre pulsão criativa, a relação do protagonista com o mundo da música servindo depois para uma série de temperos para descodificação pelos melómanos e geeks rock’n’roll presentes na plateia. Motown ou Stax? A casa onde cresceu Jack White? Convenhamos que resultou.