A primeira grande surpresa da competição oficial da 7ª edição do Lisbon & Estoril Film Festival chega do Cazaquistão e é, simplesmente, um dos melhores filmes que vi este ano. Primeira longa-metragem de um jovem realizador de 29 anos, Emir Baigazin, Harmony Lessons (passa amanhã no Monumental às 19,30, repete ali dia 14 às 14.15 e passa no Centro de Congressos do Estoril dia 11 às 17.30 é um daqueles raros casos que sabem conciliar a expressão de um olhar algo formalista (não é coisa má, sublinho) com um saber na condução da narrativa que se apresenta.
Com cenário numa povoação cazaque algures nas estepes e longe da cidade (a que se alude como espaço de fuga), Harmony Lessons propõe-nos um mergulho na vida de Aslan, um rapaz de 13 anos que, humilhado pelos colegas durante um exame médico e excluído do convívio por “ordem” de um bully que mantém a classe sob um certo terror, se refugia em rituais de purificação pessoal por uma higiene extremada e constrói, aos poucos, uma vingança que deixa clara uma inteligência superior que chega mesmo a baralhar as estruturas do poder e da ordem da região.
Se a história que Emir Baigazin filma é um pungente tratado sobre bullying (e os mecanismos da violência), a linguagem visual a que recorre procura um contraponto pela forma como a câmara procura em todos os enquadramentos a construção de verdadeiros quadros vivos, raros sendo os planos não fixos e frequentes os momentos em que um olhar fotográfico revela momentos refletidos, do minimalismo procurado nascendo uma obra de grande fôlego bem sustentada e muito bem arrumada.