quarta-feira, novembro 27, 2013
JKF: um novo olhar sem nada de novo
22 de novembro de 1963. Todos sabemos o que naquele dia aconteceu em Dallas. Como procurar novos pontos de vista sobre o assassinato de JFK sem avançar necessariamente pelas muitas teorias da conspiração e eventuais exercícios de ficção? A proposta de Parkland, filme de Peter Landesman estreado em Veneza e que chegou na última quinta-feira aos nossos ecrãs, é a de procurar ilustrar factos. Escolhe o hospital de Parkland que recebeu o presidente moribundo e, dois dias depois, o do seu assassino (pelo menos como o definiu o Warren Report) Lee Oswald. Com Marcia Gay Harden e Zac Effron em papéis do corpo médico que estava de serviço naquela manhã, o filme procura entrar no que não se viu. De resto, no próprio momento do assassinato a câmara olha para Abraham Zapruder (interpretado por Paul Giamatti), o autor do filme “amador” em Super 8 que se tornaria mundialmente célebre.
Há aqui uma lógica narrativa atenta a uma opção pela reconstituição factual dos acontecimentos. E nem a linguagem visual, que por vezes parece procurar afinidades com os movimentos e os olhares então característicos nos filmes Super 8 domésticos, impede a instalação de uma estratégia próxima do docudrama (não necessariamente televisivo). Estivesse o filme centrado no hospital, desse mais fôlego às personagens e ao lugar, não esgotando as sequências nos picos da urgência clínica e do desencanto que se instala depois, e Parkland seria um filme realmente novo e desafiante.
Mas Parkland quer contar muito mais. Quer seguir Zapruder e o seu filme. Quer olhar e escutar o irmão e a mãe de Oswald. Quer acompanhar os agentes dos serviços secretos que tinham Oswald nos seus ficheiros. E ao desfocar a atenção para lá do Parkland Hospital, Parkland, o filme, acaba coisa diluída que na verdade pouco acrescenta à história das representações da morte de Kennedy no cinema.
O filme não tinha entre as suas “intenções” a exploração de teorias da conspiração. Mas ao mostrar a mãe de Oswald afirmando que o filho era agente secreto (sendo sugerida como perturbada), ao mostrar como os agentes dos serviços secretos apagaram os seus registos em arquivo ou o legista do hospital não teve autorização para realizar uma autópsia, Parkland afinal acaba deixando as portas bem abertas para as muitas teorias que foram desde então surgindo.