segunda-feira, outubro 14, 2013

Leis do desejo (entre o real e o virtual)

Revelado no magistral Mysterious Skin de Gregg Araki (mesmo tendo antes assinado alguns outros papéis), Joseph Gordon-Levitt afirmou-se já como um ator de primeiro plano no panorama do atual cinema americano, tendo em menos de dez anos caminhado dos nichos de endeusamento ‘indie’ de Brick ou 500 Days (of Summer) para os patamares de maior visibilidade que chegaram com títulos como Inception, a sua passagem pelo terceiro capítulo da saga Dark Knight ou um papel de algum destaque no Lincoln de Spielberg. Este ano Sundance assistiu à sua estreia na realização com um filme que esta semana chegou aos nossos ecrãs.

Além de realizar, em Don Jon ele mesmo assina o argumento e protagoniza a história de um don juan da era digital que divide os seus dias entre os comportamentos-modelo do filho de família de classe popular que não falha uma ida à igreja (e ao confessionário) nem falta nunca aos treinos no ginásio e que, de noite, marca pontos nos jogos de conquista à la minuta na discoteca onde vai habitualmente com os amigos, colecionando as conquistas no feminino (que antes avalia de zero a dez) que junta como troféus. Todavia, e apesar da extrema facilidade em juntar novos one night stands aos anteriores, em nada das noites de sexo real superam o prazer que tira ao ver pornografia na internet.

Ao transformar em namorada regular uma das conquistas ocasionais é confrontado com uma ordem “moral” que depois é questionada e gera reflexão na companhia de uma colega mais velha que conhece no curso noturno que frequenta. A primeira, interpretada por uma espantosa Scarlett Johansson, a segunda por uma sempre marcante Julianne Moore são assim pólos que atravessam a narrativa e questionam a ordem inicialmente estabelecida. Contudo, o que poderia ser um debate interessante sobre o corpo (entre o real e o virtual), o prazer e o preconceito, acaba ensopado num twist algo moralista que transforma um filme potencialmente interessante num relativo encolher de ombros que traduz aquela constatação que temos tantas vezes perante uma oportunidade perdida.