Este texto foi publicado na edição de 8 de outubro do DN com o título '15 anos que mudaram a noite de Lisboa'.
15 de dezembro de 1998... Reza a mitologia da noite lisboeta que alguém terá batido à porta para dizer que um pequeno grande músico queria ali tocar. O lugar era um clube ainda com poucos meses de vida, nascido em finais de setembro do mesmo ano (estava a Expo a fechar) entre as águas do Tejo e a estação de Santa Apolónia. O músico, que nessa mesma noite tinha enchido o Pavilhão Atlântico, chamava-se Prince. De forma inesperada, inaugurou a agenda de concertos do Lux, por onde ao longo destes últimos 15 anos passou uma multidão de nomes fundamentais para contar os melhores episódios da história musical do nosso tempo.
Fundado por Manuel Reis (que antes tinha inscrito o mítico Frágil, no Bairro Alto, na história noturna da cidade), o Lux nasceu nos espaços de um antigio armazém à beira-rio. Um edifício de dois andares mais um terraço, que foi conhecendo mutações no design mas logo desde a sua inauguração afirmando-se como um clube de referência , colocando Lisboa no mapa de figuras na linha da frente da noite e da música. O Lux criou entusiasmos e aprofundou paixões. Que o digam nomes como os Thievery Corporation, 2 Many DJ ou James Murphy, alguns entre os muitos DJ de primeiro plano que por ali passaram, saciando a sede de som dos muitos que a eles sempre responderam. Como qualquer grande fenómeno da cultura pop, o Lux também tem a sua mitologia e galeria de ícones. E não há conversa sobre o clube em que não haja alguém que lembre que John Malkovich é um dos seus sócios.
Rui Vargas, programador, conta ao DN que, do Frágil, o Lux herdou “a vontade de ser mais que um clube nocturno recreativo”. É um espaço onde procura “que a música, o ambiente, as intervenções artísticas, o atendimento, proporcionem - algures numa noite em que valeu a pena sair de casa - um olhar sobre a cultura urbana”. Acima de tudo herdou do Frágil “não a aceitação, mas o culto, da diferença, das pessoas diferentes, de diferentes pensamentos, orientações e formas de estar”.
A preocupação com a música, não descuidando o design, os serviços, os bares, é peça central na vida do clube. “No Lux tudo conta, tudo é importante. E a música não é a resposta, é a pergunta”, explica Rui Vargas.
A programação está por isso “na primeira linha de atenção”. É mesmo a fonte de maiores investimentos do clube e “uma das razões de ser do Lux”, diz Rui Vargas. A programação assenta na “equipa de DJ residentes e de colaboradores próximos”, à qual se juntam nomes onde procuram “um equilíbrio entre artistas já consagrados e verdadeiros desconhecidos”, afinal as “apostas” que fazem por acreditar “que são estes artistas que fazem avançar a música”. E assim se fizeram os 15 anos que hoje ali muitos vão celebrar.
Cinco nomes, cinco noites
Ao olhar para a lista de concertos e DJ Sets que fizeram a história destes 15 anos de Lux verifico que muitas foram as noites que dali regressei a casa com a sensação de ter visto atuações marcantes. Se tivesse de destacar cinco seriam estas:
Eels (com Lisa Germano na banda!), 24 de maio de 2000
Scissor Sisters (em noite com James Murphy como DJ), 27 de maio de 2004
Fujiya & Miyagi, 6 de abril de 2007
Patrick Wolf, 18 de abril de 2007
Animal Collective + Atlas Sound, 28 de maio de 2008