Este texto é a terceira parte de um artigo originalmente publicado no suplemento Q. do Diário de Notícias com o título ‘Scott Walker: Cinco discos para redescobrir um mito’.
A chegada de 1968 (e a preparação de novo disco que chegaria em março) espelha ainda ecos de uma popularidade que vinha ainda dos dias da primeira vida dos Walker Brothers, colocando-o em listas de preferências. Os leitores da Disc & Music Echo, por exemplo, votam-no como Melhor Cantor e só o Sgt. Peppers dos Beatles ultrapassou o seu disco a solo na lista dos álbuns do ano. Mas a obsessão de Scott Walker afastava-o progressivamente desses focos de atenção, a sua vivência cultural e política focando interesses e revelando atenções bem distintas. Nesse ano recusa-se a atuar na África do Sul por não concordar com a política do apartheid e compra um anuncio no The Times onde pede aos americanos expatriados que apoiem a candidatura presidencial de Bobbby Kennedy. Scott 2, tal como Scott 3 (lançado um ano depois) aprofundam a procura de um novo caminho mais “sério” (expressão que chega a usar numa entrevista a Jonathan King). Os arranjos alargam horizontes, por vezes lançando bases de ideias mais desafiantes que retomaria décadas mais tarde. A voz ganhava profundidade e corpo, em nada parecendo a de alguém que ainda não chegara aos 30 anos. E em Scott 3, muito particularmente, nota-se uma mais alargada atenção às potencialidades do estúdio de gravação, criando aquele que muitas vezes é apontado como o disco maior da sua obra.