“Houston, we have a problem”... (ou seja, Houston, temos um problema). Foi com estas palavras que, em abril de 1970, a tripulação da Apollo 13 dava conta aos técnicos da NASA no solo de uma explosão num tanque de oxigénio do módulo lunar que comprometia a missão e punha em risco a própria vida dos três astronautas que seguiam a bordo. Na verdade, a frase que enviaram para a Terra foi “Houston, we’ve had a problem here” (ou seja, Houston tivemos aqui um problema), mas a história mitificou a versão “curta”, que se tornou um símbolo do reconhecimento de que um acidente grave acabou de acontecer. O cinema visitou a memória deste acidente (com final feliz) num filme que teve precisamente por título Apollo 13, realizado em 1995 por Ron Howard. A extrema fragilidade e vulnerabilidade do pequeno módulo lunar, envolto pelo silêncio e o vazio do vácuo, foi inesperadamente desafiada numa história que realmente aconteceu. E se a ficção imaginasse outra situação, não muito distante?
Uma resposta possível pode chegar com Gravidade, filme que amanhã chega aos ecrãs portugueses e que representa a melhor contribuição para a história da ficção científica no grande ecrã desde o belo e minimalista Moon, de Duncan Jones. Realizado por Alfonso Cuarón (o mesmo de E a Tua Mãe também e que já tinha visitado os espaços ds ficção científica em Os Filhos do Homem), o filme conta apenas com dois atores: George Clooney e Sandra Bullock. E escassos são os momentos em que os vemos sem um fato espacial.
Gravidade conta-nos a história de um aparatoso acidente em órbita. Destroços de um teste antissatélite chocam com outros satélites, gerando uma nuvem que se abate sobre o Space Shuttle, onde dois astronautas e uma especialista técnica tentam reparar o telescópio Hubble em pleno voo no espaço. A extrema vulnerabilidade da nave e dos próprios fatos espaciais é posta à prova, mas com más notícias no fim. Matt Kowalski (George Clooney), equipado com uma Unidade de Manobra Tripulada e a dra. Ryan Stone (com nove minutos de oxigénio às costas) são os únicos sobreviventes. Abandonam um Space Shuttle que foi perfurado por destroços e tentam chegar à Estação Espacial Internacional (EEI). Para “ajudar”, a colisão dos detritos com a rede de satélites deixou astronautas sem possibilidade de comunicar com mais ninguém. Apenas entre si.
O medo, a luta pela vida, a expressão interior da catástrofe que se abateu sobre a missão e o confronto com a beleza esmagadora do globo terrestre por cenário ocupam então o ecrã, numa narrativa que procura um sentido de realismo que começa aos poucos a ganhar expressão no cinema de ficção científica.
Há pontuais imprecisões, Cuarón admite, explicando que serviram necessidades da narrativa. O Hubble, por exemplo, nunca estaria numa órbita próxima da EEI. Mas a sensação de fragilidade que o homem vive no espaço e a força que motiva a luta pela sobrevivência dominam este retrato realista em plena órbita terrestre.


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