12 de fevereiro de 2012. Uma performance de 40 segundos frente ao altar de uma catedral em Moscovo acabaria por fazer história. Encenada como um protesto ao apoio da igreja ortodoxa russa à reeleição de Putin, a acção acabaria punida com extrema severidade pelo sistema judicial russo, levantando vozes de protesto que ecoaram pelo mundo. Pussy Riot: A Punk Prayer, filme de Mike Lerner e Maxim Pozdorovkin que integra a secção Heartbeat do 11º DocLisboa (repete amanha às 16.30 no Cinema São Jorge), recorda não apenas a performance e as suas consequências sobre as ativistas que a desencadearam, mas serve também de pólo de observação sobre não apenas um regime cuja ginástica democrática parece ser coisa ainda dominada por séculos de tradição autocrática e a intolerância religiosa que entretanto ali parece ter florescido, como também sobre o papel que a mulher tem na atual sociedade russa.
Nadia, Masha e Katia são as três figuras do coletivo Pussy Riot que enfrentaram os tribunais e as suas sentenças, num processo que elas mesmas descrevem como uma encenação. O filme recorda as imagens da performance, mas acompanha sobretudo o julgamento e escuta opiniões, tanto junto dos que estão próximos destas três mulheres. Em entrevistas individuais, encarnam sempre a vivência no coletivo na terceira pessoa do plural. A “elas” devemos assim uma possibilidade de ver e poder refletir como este caso espelha o déficit democrático e a falta de respeito (e tolerância) para com ideias diferentes na Rússia atual.
O filme toma um partido. Tem um ponto de vista. Nada contra, acrescente-se. Demonstra o poder em potência destas formas de luta pela guerrilha performativa. E contribui para acentuar ainda mais a transformação destas ativistas em ícones de uma maneira de estar na vida pública do nosso tempo, agindo através da arte em favor de uma ideia. Se incomoda o poder, melhor ainda. Afinal não foi sempre essa uma das várias intenções da pulsão artística?