Death metal em Angola?... Sim. Não vamos reduzir Portugal ao fado nem a Argentina ao tango, a Espanha ao flamenco, a Jamaica ao dub, os EUA à country ou ao hip hop... É certo que o kuduro conquistou o mundo e já transcendeu as fronteiras da lusofonia. Mas Death Metal Angola, filme de Jeremy Xido que integra a secção Heartbeat desta 11ª edição do DocLisboa (repete dia 3 no Cinema São Jorge às 21.45), é um olhar sobre uma realidade que muitos certamente desconhecíamos.
Um dos trunfos maiores deste documentário é a forma como compreende que uma música aparentemente “alienígena” num certo território tem justificações no seu contexto social, político ou histórico. A pulsão de revolta que habita vidas que conheceram a guerra surge como um dos primeiros dados a considerar. É no Humambo, em particular em torno de um orfanato, que o filme centra as atenções. Sonia, a responsável pela instituição é admiradora da cultura rock’n’roll. E à sua volta florescem bandas e ideias, a música expressando uma raiva explosiva que sabe que por aquela região há ainda campos minados, as memórias dos tiroteios não sendo afinal assim tão distante.
Death Metal Angola escuta a música e o que nos diz. Acompanha também, em paralelo, a concretização de um sonho antigo de realização de um primeiro festival de rock no país, onde chegam outras bandas de outras regiões (com realidades certamente partilhadas). Mas é no Huambo, no orfanato e na povoação onde habita, naqueles que acolhe e na mulher que o dirige que o filme conhece os seus cenários e personagens. Mais que um filme sobre música é antes um documentário sobre o lugar físico e humano onde a música acontece. Acrescente-se que com bom sentido fotográfico em muitos enquadramentos. E com uma ideia fabulosa de performances de air guitar a acompanhar os créditos finais.