Alunageorge
“Body Music”
Island / Universal
4 / 5
Se dúvidas houvesse sobre o facto de estarmos a viver um dos momentos mais ricos em grandes acontecimentos na história do R&B e seus arredores, então o (muito aguardado) álbum de estreia da dupla britânica Alunageorge acaba de vez com as questões que eventualmente ainda subsistissem... Se por um lado o espantoso Miguel e o não menos recomendável Frank Ocean asseguram variações e atualizações segundo escolas contemporâneas de raiz americana, se Justin Timberlake encontrou eloquentes novas expressões pop destas mesmas heranças no belíssimo álbum que editou já este ano, se James Blake ou Jamie Woon ensaiaram inteligentes diálogos com as mais recentes visões em terreno dubstep ou se os Disclosure (com quem os Alunageorge colaboraram num tema) definiram as mais estimulantes ligações com os espaços da música de dança (em concreto via cultura house), então esta dupla de quem hoje se fala propõe uma abordagem que tanto vinca uma certa alma pop na forma de pensar a canção como sublinha uma identidade muito brit na forma de expressar personalidade. De certo modo, é um pouco como, em finais dos oitentas, o fizeram os Soul II Soul, a própria figura de George Reid sublinhado a perspetiva do produtor no gume da invenção, a Aluna Francis cabendo contudo a totalidade de um protagonismo vocal que nessa outra aventura de Jazzie B era sobretudo partilhado entre vozes convidadas. O elemento que, após a sugestão de uma série de promissores singles que editaram desde 2011, agora se confirma em Body Music é todavia o foco prioritário sobre uma identidade pop que surge na alma destas canções, definindo desse modo as estruturas sobre as quais tanto se materializam as expressões de evidente gosto de Aluna por escolas vocais R&B como o interesse de George pelas potencialidades das electrónicas e um leque de referências que, como tem sido frequentemente referido, passa pelos terrenos Flying Lotus e por heranças de linhagens maiores da produção pop da última década como Timbaland ou o coletivo Neptunes. Body Music é um conjunto magnífico de canções que alargam a um patamar de visão maior as boas ideias que já conhecíamos de singles como Your Drums Your Love, Attracting Flies ou You Know You Like It. Sem perder nunca de vista uma certa agilidade rítmica (que garante a proximidade de dinâmicas da música de dança), Body Music é sobretudo um manifesto a um sentido de diversidade da pop que mostra como o género vive hoje um tempo de abertura a novos desafios e caminhos como nem sempre acontece. Talvez esteja afinal aqui “o” disco do verão.