Porque foi longa a pausa entre este e os discos que editou em meados da década anterior (o álbum ‘From one Human Being to Another, de 2005, e o disco de remisturas ‘New Versions’, de 2006)?
Pouco depois de o meu primeiro álbum ter sido lançado, a editora Zona Música foi à falência, e isso não me permitiu desenvolver a carreira que perspectivava. Foi uma altura onde a indústria do disco entrou na crise profunda que conhece ainda hoje em dia. Foi também para mim o momento para acabar os meus estudos de letras na Universidade de Genebra, que tinha deixado a meio quando decidi ir para Portugal e lançar a carreira musical. Nesse lapso de tempo continuei a compor e fiz música para peças de teatro de objecto (companhia Andrayas) cujo fundador Markus Schmid foi um dos protégés do mimo Marceau, na escola dele em Paris.
O novo EP aprofunda o trabalho não só com electrónicas mas com a própria produção. Houve um investimento neste aperfeiçoamento formal?Sim, tive vontade de aperfeiçoar-me nos vários aspetos que tocam à produção e gravação de um tema. Decidi fazer um semestre numa escola como engenheiro de som, o que me permitiu desenvolver conhecimentos que já tinha antes, mas de uma forma autodidata e algo anárquica. Também é óbvio que, com o passar do tempo, torna-se mais fácil transpor uma ideia, um sentimento para algo de mais concreto, que é o som, a melodia, o ritmo. Este EP foi coproduzido pelo Armando Teixeira, e isso também ressente-se no lado mais monolítico e brutalista dos temas. Era uma cor que queria dar ao EP.
Mas mantém-se uma clara ligação a todo um universo de referências formativas que conhecíamis dos discos anteriores...Este EP é uma transição para mim. Insere-se ainda numa forma musical que me é familiar e que adquiri jovem graças aos meus pais e irmão; tudo se forma e cristaliza durante a infância, inclusive a linguagem, e por extensão, a linguagem musical. Mas a natureza e razão de ser de um artista, é aquela de procurar e experimentar, reinventar-se. O próximo álbum, Kardia, vai guardar o meu “código” mas haverá surpresas no que toca a universos e gramáticas musicais. Sempre gostei daqueles artistas que transcendem as fronteiras dos géneros para criar algo de iconoclasta e singular. Há poucos dias pus a tocar o álbum da Björk, Post, que não ouvia há muito tempo, e de surgir um tema jazzy, de big-band, ou seja orgânico, It’s Oh So Quiet, no meio duma produção electrónica tão meticulosa. Acho genial e impede o ouvinte de catalogar o artista num estilo exato.
Ficou satisfeito com as “conquistas” do álbum de 2005 e do disco de remisturas?Sinceramente, acho que um pouco mais de meios da parte da editora na altura, e mais experiência do meu lado... E uma pontinha de sorte... E acho que esse disco podia ter alcançado algo mais em termos de visibilidade. Mesmo assim, ainda oiço pessoas dizerem-me que foi um disco completamente inesperado e muito pessoal na música portuguesa dessa época. Só isso para mim, já é uma grande conquista, pois o que fica para história é a obra musical. Outra conquista é criar credibilidade, legitimidade para o que vem a seguir. Talvez o Armando Teixeira não tivesse aceite colaborar comigo...
No novo EP junta uma vez mais um espaço para remisturas. O que permite uma remistura de uma canção? É só uma ideia de novo ponto de vista a uma composição?
O novo EP aprofunda o trabalho não só com electrónicas mas com a própria produção. Houve um investimento neste aperfeiçoamento formal?Sim, tive vontade de aperfeiçoar-me nos vários aspetos que tocam à produção e gravação de um tema. Decidi fazer um semestre numa escola como engenheiro de som, o que me permitiu desenvolver conhecimentos que já tinha antes, mas de uma forma autodidata e algo anárquica. Também é óbvio que, com o passar do tempo, torna-se mais fácil transpor uma ideia, um sentimento para algo de mais concreto, que é o som, a melodia, o ritmo. Este EP foi coproduzido pelo Armando Teixeira, e isso também ressente-se no lado mais monolítico e brutalista dos temas. Era uma cor que queria dar ao EP.
Mas mantém-se uma clara ligação a todo um universo de referências formativas que conhecíamis dos discos anteriores...Este EP é uma transição para mim. Insere-se ainda numa forma musical que me é familiar e que adquiri jovem graças aos meus pais e irmão; tudo se forma e cristaliza durante a infância, inclusive a linguagem, e por extensão, a linguagem musical. Mas a natureza e razão de ser de um artista, é aquela de procurar e experimentar, reinventar-se. O próximo álbum, Kardia, vai guardar o meu “código” mas haverá surpresas no que toca a universos e gramáticas musicais. Sempre gostei daqueles artistas que transcendem as fronteiras dos géneros para criar algo de iconoclasta e singular. Há poucos dias pus a tocar o álbum da Björk, Post, que não ouvia há muito tempo, e de surgir um tema jazzy, de big-band, ou seja orgânico, It’s Oh So Quiet, no meio duma produção electrónica tão meticulosa. Acho genial e impede o ouvinte de catalogar o artista num estilo exato.
Ficou satisfeito com as “conquistas” do álbum de 2005 e do disco de remisturas?Sinceramente, acho que um pouco mais de meios da parte da editora na altura, e mais experiência do meu lado... E uma pontinha de sorte... E acho que esse disco podia ter alcançado algo mais em termos de visibilidade. Mesmo assim, ainda oiço pessoas dizerem-me que foi um disco completamente inesperado e muito pessoal na música portuguesa dessa época. Só isso para mim, já é uma grande conquista, pois o que fica para história é a obra musical. Outra conquista é criar credibilidade, legitimidade para o que vem a seguir. Talvez o Armando Teixeira não tivesse aceite colaborar comigo...
No novo EP junta uma vez mais um espaço para remisturas. O que permite uma remistura de uma canção? É só uma ideia de novo ponto de vista a uma composição?
Produzir um tema é como se tivéssemos uma dúzia de caminhos à nossa frente, cada qual também composto de inúmeros cruzamentos. Um tema finalizado é o resultado de uma ramificação de ideias e escolhas, por vezes assumidas, por vezes acidentais. Para mim a remistura serve precisamente a levantar o véu sobre o que podia ter sido o tema original seguindo uma ramificação e escolhas diferentes, a nível do som, da composição. É uma forma de vestir o tema dum estilo completamente diferente, para outras circunstâncias, como a pista de dança, por exemplo. Isso permite também a outro tipo de público vir a conhecer a minha música. É um convite.