Discos para ouvir em tempo de Verão... Este texto integra a série 'Para ouvir na praia', que por estes dias tem sido publicada no DN.
Nasceu nos Estados Unidos, vagueou pelo mundo nos anos 90, encontrou casa mais tarde entre a França e o Canadá. Mas foi pelo México que Lhasa de Sela viveu parte dos dias de infância e juventude que tanto a marcaram e que mais tarde ganharam projeção direta nas canções de La Llorona, o álbum de estreia que editou em 1997 e que foi uma das mais espantosas revelações que o universo da world music nos deu a ouvir na reta final dos anos 90.
As memórias dos dias de calor em que os pais, hippies, vagueavam pelas estradas mexicanas numa caravana, levou-a a querer cantar em espanhol (apesar de não ser fluente na língua) na hora de pensar a criação de um primeiro álbum onde cruzou ecos da canção popular dos anos 30 e 40, a carga emotiva das torch songs, discretos sabores do jazz e da música klezmer e, sobretudo, ecos de sonoridades de várias geografias, do México (que aqui serve de cenário protagonista) a outros destinos mais distantes.
Com momento maior em El Desierto este é um disco que assimila velhas mitologias (o título decorre mesmo de uma lenda azteca) e vivências folk locais, junta uma escrita de canções na escola dos grandes cantautores de 60 e 70 e uma voz única, que o tempo infelizmente levou cedo demais (Lhasa de Sela morreu vítima de um cancro em 2010, com 37 anos e uma obra que passou pelos palcos de teatros e de circos e que nos deixou gravados apenas três álbuns).