Divine
“Maid in England”
Cherry Pop
3 / 5
É uma das figuras de culto mais interessantes do
cinema independente norte-americano dos anos 70 e 80, vestindo sobretudo papéis
femininos, e afirmou-se presença-chave em alguns dos títulos mais marcantes da
filmografia do realizador John Waters, do célebre clássico trash que foi Pink
Flamingos (1972) ao sucesso global em Hairspray (1988), onde interpretou o
papel de uma mãe. Em finais dos anos 70 Divine (de seu nome real Harris Glenn
Milstead) começou a atuar em clubes como performer, começando pouco depois a
integrar canções no seu número... Nascia assim uma inesperada carreira musical
que, depois de uma estreia algo discreta em Born To Be Cheap (1981), ganhou
personalidade, alinhada no espaço do hi-nrg, contando com a presença do
marcante produtor Bobby Orlando (o mesmo que trabalharia depois com os Pet Shop
Boys na primeira versão de West End Girls), com quem gravaria quatro singles
entre 1982 e 83, entre os quais Native Love (Step by Step) ou Love Reaction. Um
desentendimento financeiro afastou-o da ligação a Bobby Orlando, começando em
1984 a trabalhar com a equipa de produção Stock Aitken & Waterman que na
altura começava também a gravar com os Dead or Alive em semelhante comprimento
de onda, mas que mais tarde alcançaria sucesso global com discos de nomes como
Kylie Minogue, Rick Astley ou a dupla Mel & Kim. A morte inesperada de
Divine em março de 1988, pouco depois da bem sucedida estreia de Hairspray,
deixou a obra musical reduzida a uma mão cheia de singles, dois álbuns de
estúdio (My First Album, de 1982) e Maid In England (1988) e uma série de
antologias. As canções da etapa Bobby Orlando (juntamente com o single que a
antecedeu) têm feito parte do alinhamento de várias antologias lançadas já na
era dos suportes digitais, o álbum Born To Be Cheap, de 1994, servindo um bom
panorama dessa etapa mais ligada à essência hi-nrg da sua identidade. Maid In
England, junta You Think You’re a Man e I’m So Beautiful (os dois singles que
gravou com o trio Stock Aitken & Waterman, que representaram os seus
maiores êxitos, assinalando uma aproximação hi-nrg à canção pop) aos
imediatamente posteriores Walk Like a Man e Twistin’ The Night Away (este
último uma versão de um original de Sam Cooke) e a uma série de outros inéditos
menores. Apesar da ainda presente alma hi-nrg (que em 1988 havia perdido
vitalidade nas pistas de dança perante a emergência da cultura house e toda uma
nova dimensão alcançada pela música de dança), o álbum como um todo não repete
o sentido de coesão nem o carácter marcante do disco de 1982. Maid in England
representa o retrato da etapa mais pop(ular) da curta discografia de Divine. É
bom que esteja agora novamente disponível com som remasterizado e três
remisturas (da época) como extras. Mas para iniciados, convém espreitar um
pouco mais atrás no tempo para conhecer o que de mais interessante este
hilariante provocador registou em disco.