David Lynch
“The Big Dream”
Sunday Best
3 / 5
Se quisermos associar uma palavra ao nome de
David Lynch a escolha será simples: cinema... Porém, desde
Inland Empire (2006) que vemos uma outra realidade a dominar as suas preocupações artísticas: a música. De resto, e para além de telediscos para os Interpol, Moby ou Nine Inch Nails, o primeiro filme de sua autoria desde essa longa-metragem de há sete anos será um filme-concerto dos Duran Duran, apresentado recentemente em Cannes e cuja estreia comercial deverá acontecer pelos próximos meses... De resto, tem sido essencialmente no formato de disco que o temos visto a trabalhar... Seja como parte do coletivo que criou o álbum
Dark Night of The Soul, como produtor do álbum de estreia da cantora Chrysta Bell ou como autor em nome próprio, tendo lançado um primeiro álbum a solo em finais de 2011, este sendo assim o seu sucessor direto. Há muito que David Lynch definiu os caminhos pelos quais a sua música desenha o seu caminho. Entre as parcerias com Angelo Badalamenti para a voz de Julee Cruise nos anos 80 (onde se sugeria a construção de ambientes entre o onírico e o fantasmático, com presença de electrónicas nos cenários) e a aventura Blue Bob (com John Neff, onde apontou azimutes a um evidente interesse pelas formas dos blues) estruturaram-se as bases de uma ideia de blues assombrados com sabor a século XXI que
Crazy Cown Time (2011) perseguia e o novo
The Big Dream agora aprofunda. Se o álbum de 2011 assinava finalmente o momento em que o seu nome surgia como protagonista num disco, o novo álbum vinca mais ainda a presença de Lynch, que além da composição assina grande parte das vozes, deixando apenas um momento para uma colaboração com a sueca Lykke Li – em
I’m Waiting Here, tema extra exclusivo da edição digital – que, por ironia do destino, é mesmo a melhor das canções aqui presentes. Face ao álbum de estreia o novo disco foca de forma mais precisa os caminhos que a música segue, pela forma como tudo nasceu em terrenos dos blues, em
jam sessions com o produtor Dean Hurley e pela própria presença vocal de Lynch. A focagem acaba contudo por ser o elo mais fraco de um álbum que, apesar de alguns belos momentos, não repete contudo as visões mais desafiantes e promissoras de
Crazy Clown Time. Vale-nos o reencontro com uma expressão muito sua de um certo sabor vintage em baladas desencantadas como
Cold Wind Blowin’ ou
Are You Sure, a leitura muito pessoal que se faz de
The Ballad of Hollis Brown ou a fresta que abre mais fluente diálogo com electrónicas em
Wishin’ Well (além, claro, da já referida colaboração com Lykke Li, que é simplesmente encantadora). Não é um mau disco... Não será uma desilusão. Mas, e já sem o valor da “surpresa”, está muito longe de ser um dos acontecimentos do ano.