The Postal Service
'Give Up'
Sub Pop / Popstock
4 / 5
Entre os discos que o tempo inscreveu no quadro de honra dos grandes feitos indie da década dos zeros o álbum que os Postal Service lançaram em 2003 conquistou entretanto uma dimensão quase mítica (afinal é o segundo álbum com maiores vendas na história da Sub Pop). Não apenas pelas qualidades do disco em si (as canções, as sonoridades eletrónicas, os temas, o trabalho vocal) mas pelo facto de, ano após ano, parecendo ser cada vez mais evidente que se vai tratar de um caso de filho único na discografia deste projeto. Apesar do regresso aos palcos em 2013 para uma digressão que assinala o décimo aniversário do lançamento de Give Up, os Postal Service parecem ter adiado para um patamar de tempo indefinido a eventualidade de um dia poderem vir a criar um sucessor para este disco. Longe de ser uma obra revolucionária, Give Up partilhou com o contemporâneo Digital Ash In A Digital Urn, dos Bright Eyes, o desafio de experimentar o labor de ferramentas eletrónicas num terreno que habitualmente aceitava então mais evidente presença das guitarras. É óbvio que a presença de Jim Tamborello (a alma do projeto Dntel) na génese dos Postal Service garantiu desde logo uma vivência jã experimentada na relação com estas máquinas e estes sons. Mas é a entrada em cena de Ben Gibbard (dos Death Cab For Cutie) que confere aos Postal Service uma visibilidade (e apetite) entre o público indie, como transporta a estas canções uma sensibilidade no pensar das canções que assim sugere uma noção de diálogo entre estes dois mundos, da fluência deste encontro nascendo um disco que então se destacou e conquistou admiradores. A luminosidade pop de um Such Great Heights, que sugere o que poderíamos descrever como uma possível assimilação indie do ideário pop clássico (que tem nos Pet Shop Boys o mais transversal dos paradigmas), serviu de cartão de visita a um disco que, dez anos depois, evidencia contudo o que não mais senão um episódio feliz numa história sem frutos maiores. Mas mesmo datado (e na verdade menos influente que o que se poderia ter imaginado), o álbum de estreia dos Postal Service revela, dez anos depois, uma coleção de belas canções pop, num alinhamento agora enriquecido com um disco adicional que junta remisturas, temas de EPs e até versões, entre as quais uma de Grow Old With Me, de John Lennon.
PS. Este texto foi originalmente publicado a 24 de abril na edição online do DN