Assinalaram-se esta semana os 200 anos sobre o nascimento de Richard Wagner, que aqui evocámos através da recente edição em Blu-ray de mais um 'Anel' e de alguns episódios da relação da vida e obra do compositor com o cinema. Hoje deixamos aqui uma versão editada de um texto originalmente publicado a 22 de maio no DN.
Fez esta semana 200 anos que nascia no número 3 de uma célebre artéria comercial de Leipzig (Alemanha) o nono filho de Carl Friedrich Wagner, funcionário da polícia (apesar de subsistirem dúvidas sobre a sua paternidade), e de Johanna Rosine, filha de um padeiro. Dois séculos depois, o que então foi um acontecimento que passou despercebido, toma dimensões de efeméride à escala global. Afinal, em Richard Wagner (1813-1883) reconhecemos um dos nomes maiores da história da música e referência de primeiro plano no universo da ópera.
2013 é, de resto, invulgarmente rico em grandes efemérides ligadas à ópera: no mesmo ano que via Wagner nascer, a família Verdi, de Busseto (Parma, Itália), acolhia a 10 de outubro a chegada ao mundo de Giuseppe, que se faria referência maior da ópera romântica italiana; e cem anos depois, a 22 de novembro, nascia Benjamin Britten, um dos maiores compositores de ópera numa etapa do século XX em que poucos mais o fizeram com a sua dedicação e resultados. Os três são, por isso, presença inevitável na programação dos teatros de ópera e nas agendas de lançamentos. Deixemos, contudo, Verdi e Britten para mais tarde e centremo-nos hoje no homem em quem se transformou o menino nascido numa pensão da movimentada Brühl, em maio de 1813.
Discos e mais discos, DVD e Blu-ray - não faltam lançamentos, entre reedições de gravações históricas e a mais recente edição em vários formatos áudio e vídeo da tetralogia O Anel do Nibelungo que, encenada por Robert Lepage, passou de 2010 a 2012 pelo Met (Nova Iorque) e, transmitida em HD, também pela Gulbenkian.
Grande parte das expectativas dos wagnerianos está centrada na edição deste ano do Festival de Bayreuth (Norte da Baviera; decorre sempre de 25 de julho a 28 de agosto). Exclusivamente dedicado à apresentação das óperas do compositor, o festival apresenta este ano uma nova produção de O Anel do Nibelungo (encenada por Frank Castorf e dirigida por Kirill Petrenko) e terá, inclusive, um programa dedicado aos mais novos, com "tempero" pop.
Celebrar os 200 anos de Wagner não será contudo um exclusivo de Bayreuth. Leipzig, a cidade natal, apresenta uma série de eventos sob o slogan "Richard ist Leipziger..." (significa: "Richard é de Leipzig"), revelando também planos para um novo museu dedicado ao compositor. Segundo conta a Deutsche Welle, no Weinstock Restaurant, numa das praças centrais da cidade, há um menu Wagner, a 30 euros, com três dos pratos favoritos do compositor, entre os quais lagostim com croutons.
A mais inesperada das propostas chega de Berlim, onde a Fair Play desafia jovens músicos a participar numa "batalha" rap inspirada pelas óperas. Entre as figuras envolvidas no projeto conta-se até Katharina Wagner, bisneta do compositor e codiretora do Festival de Bayreuth, que procura assim definir uma ponte entre a atual musicalidade, com o seu sentido do ritmo, e a obra do seu bisavô.
Entretanto, em entrevista recente publicada pelo Tagesspiegel e citada pela AFP, Kathaina Wagner anunciou que, por ocasião do bicentenário, irá disponibilizar documentos que ajudarão a compreender a relação da sua família com o poder nazi. Essas fontes, que herdou de seu pai, Wolfgang, serão entregues ao Arquivo do "Land" da Baviera para que possa assim "dar aos investigadores a possibilidade de aceder" ao passado da sua família e da sua relação com Hitler. A avó de Katharina, a inglesa Winifred Wagner (casada com Siegfried, filho de Richard), foi logo desde os anos 20 uma apoiante incondicional de Hitler (o qual era visita frequente da família) e transformou o Fes- tival de Bayreuth numa montra cultural do regime nazi.