Electronic
“Electronic (Special Edition)”
EMI Music
4 / 5
Eram uma dupla, mas com aquela dimensão mítica dos chamados supergrupos (até porque, afinal, juntavam um ex-elemento dos The Smiths à voz dos New Order, nomes maiores do panorama pop/rock britânico de costela indie). Johnny Marr (o guitarrista dos Smiths) e Bernard Sumner (guitarrista dos Joy Division e, depois, vocalista dos New Order) tinham-se já cruzado em 1984 por ocasião de uma colaboração do primeiro num tema dos Quango Quango que o segundo produziu. Quis a linha-vida de cada um dos músicos que novo cruzamento acontecesse mais perto do fim da década (já depois da separação dos Smiths). A parceria começou por nascer com a vontade de ser uma experiência anónima (pelo menos durante o tempo que levasse alguém a saber quem estaria por detrás da música), mas o envolvimento de Neil Tennant (dos Pet Shop Boys), que soube do projeto através de um designer gráfico elevou inevitavelmente a fasquia para um patamar ainda menos fácil de “esconder”... E, em dezembro de 1989, com Getting Away With It, uma canção no mínimo perfeita (e que podemos considerar como o hino de despedida dos oitentas), apresentavam-se assim os Electronic. A canção cruzava formas e cores da tradição pop com o fulgor de uma alma animada pelas recentes agitações nos espaços da música de dança (nomeadamente a cultura house). Foi um êxito global, e o sonho do eventual anonimato definitivamente arquivado... O passo seguinte chegaria contudo apenas ano e meio depois, já em 1991. Confirmando em pleno as premissas lançadas pelo single de estreia (entretanto incluído no disco), o álbum de estreia do projeto – ao qual chamaram simplesmente Electronic – propunha um mais extenso e profundo programa de encontros entre as heranças da pop, a presença das guitarras e ecos presentes escutados entre a música de dança. Sumner e Marr somaram aqui um conjunto impressionante de canções (decididamente mais inspiradas que as que os New Order registariam pouco depois em Republic), mostrando o alinhamento horizontes invulgarmente largos perante tão evidente coesão no plano das ideias. Estamos talvez em terreno mais próximo das vivências entre programações da música dos New Order nos anos 80, o regresso de Neil Tennant (desta vez acompanhado por Chris Lowe) projetando no dueto Patience of A Saint uma evidente ponte para com a pop luminosa (e sempre inteligente) dos Pet Shop Boys. Com o tempo, e os dois álbuns que se seguiram – Raise The Pressure (1996) e Twisted Tenderness (1999) – o fulgor esmoreceu e aquele momento de invulgar inspiração não se repetiu. Agora, mais de 20 anos depois, o álbum de estreia regressa numa versão especial com o som remasterizado e um segundo disco com extras (entre os quais versões alternativas, instrumentais, lados B, juntando ainda Disappointed, single de 1992, criado para a banda sonora de Cool World, que representou a terceira colaboração de Neil Tennnat com Bernard Sumner e Johnny Marr.