sexta-feira, abril 12, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com João Mascarenhas

Iniciámos na última semana no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Hoje passam por aqui as palavras do João Mascarenhas, da Stealing Orchestra. Ao João um muito obrigado pela colaboração.

A primeira loja de discos, onde passava todos os dias, antes de me ir enfiar num salão de jogos ver "os grandes" jogar Ghost' n' Goblins, era em Famalicão, onde vivi 5 anos. Não me lembro do nome, lembro-me que 95% da loja eram electrodomésticos e que o dono, um senhor simpático de óculos e barba, me ajudou a completar a colecção em vinil dos The Clash, a minha banda preferida quando tinha menos de 15 anos. Comprar em vinil naquela altura não era um capricho elitista. Era o que havia. Isso ou cassetes. Nunca comprei uma única cassete. Roubei uma uma vez numa loja em Bragança, dos The Cure ao vivo. Mas nunca lhes liguei nenhuma. E nunca mais voltei a roubar cassetes, nem discos, nem nada. Acho eu. Com o dono da loja em Famalicão conheci por exemplo os Nine Inch Nails, provavelmente em 1990, quando ele me mostra o Pretty Hate Machine e me diz "és capaz de gostar disto". Gostei, mas depois nunca mais quis saber. Muito choninhas. Preferia os Ministry, cujos discos comprei quase todos na Vandoma.

A segunda loja foi a Bimotor. Nessa altura já viva no Porto e ia lá comprar música industrial, electrónica, techno e metal, já em CD. Os tipos que lá trabalhavam também já me conheciam bem e me recebiam sempre de forma simpática. Ou acho eu que sim. Agora que sei o que é estar atrás dum balcão consigo olhar para trás e sim, eu era um desses clientes chatos que ficam horas a ver coisas. E quando se vê discos demora-se muito tempo.

Estas foram as duas lojas que mais me marcaram, porque a fase mais forte da nossa aprendizagem musical é a adolescência. É aí que tudo é novo e há um mundo inteiro por descobrir. Depois crescemos e já não somos surpreendidos a toda a hora. Mas vai acontecendo e todos os anos saem discos bons. Destaco para já, de 2013: Kongh - Sole Creation, Guapo - History of The Visitation, Rhye - Woman, Czarface - Inspectah Deck + 7L & Esoteric e Bonobo - The North Borders.

Hoje compro menos discos, não digo porque para não me prenderem, mas quando compro é na Louie Louie. Vou lá às vezes buscar os discos da minha vida em vinil. O ultimo foi o Mëkanïk Dëstruktïẁ Kömmandöh dos Magma. Agora sim por capricho.