The Strokes
“Comedown Machine”
RCA / Sony Music
2 / 5
Chegou aquela altura em que sentimos que, por aqui, a coisa (infelizmente) descarrilou. Na verdade, a coisa já vinha descarrilar há algum tempo... Depois de um álbum de estreia – Is This It (2001) – que está já registado a tinta permanente entre os grandes discos da viragem do milénio, de um sucessor (Room on Fire, 2003) que, mesmo sem grandes mudanças, nos voltou a dar belas canções e de um igualmente cativante First Impressions Of Earth (2006) que aliava ao saber na escrita uma vontade em juntar novos elementos à paleta de sons, o “regresso” dos Strokes, que nos chegou em 2011 na forma de Angels dava conta de uma banda sem a coesão, entusiasmo e rumo que faz com que a música criada em conjunto nasça vibrante e consequente. Na verdade não era uma banda “junta” a que gravou Angels, as ideias colhidas em separado juntando-se num alinhamento frouxo onde faltavam as canções de outrora. Pelo caminho convém lembrar que o vocalista Julian Casablancas editou em 2009 um belíssimo álbum a solo (Phrazes For The Young) no qual cruzava naturais ecos da vivência nos Strokes com um gosto evidente por memórias dos oitentas. Por seu lado o guitarrista Albert Hammond Jr. lançou dois álbuns a solo entre 2006 e 2008 (o primeiro francamente mais recomendável que o segundo). Nikolai Fraiture gravou um disco com os Nickel Eye em 2009. E Fabrizio Moretti apresentou um álbum através do seu grupo paralelo Little Joy. Só o guitarrista Nick Valensi não desenvolveu um projeto a solo, tendo todavia colaborado em discos de Devendra Banhart ou Regina Spektor. Não sendo Angels um disco de “reunião”, uma vez que as ideias e canções foram surgindo separadamente (segundo se conta, grande parte das contribuições de Casablancas chegaram via email), esperava-se que, desta vez, o reencontro dos músicos num mesmo estúdio pudesse somar os ecos destas experiências laterais às heranças naturais dos Strokes, daí podendo surgir um certo renascimento (que o álbum de 2011 falhara). Porém, ao escutar o alinhamento desconjuntado, fragmentado e, acima de tudo, desnorteado, de Comedown Machine, acabamos com a sensação de que os Strokes não estão mais aqui... A “voz” criativa de Casablancas fala mais alto e canções como One Way Trigger (que alguém comparou já a memórias dos A-ha) e 80’s Comedown Machine (o melhor momento do disco) mais parecem aperitivos para um seu segundo disco a solo. All The Time (o single de avanço) e 50/50 procuram recuperar a alma primordial da banda. Mas o resto do alinhamento revela uma sequência absolutamente desinspirada, desinteressante e inconsequente de canções que dão conta de uma banda cansada, desmotivada e bem longe do que de si fez a lebre de uma geração que redescobriu, à chegada do novo século, o velho fulgor anguloso e elétrico do rock’n’roll.