terça-feira, abril 02, 2013

Novas edições:
Foxygen, We Are the 21st Century Ambassadors
of Peace & Magic


Foxygen 
“We Are The 21st Century Ambassadors of Peace & Magic” 
Jagjagwar / Popstock 
4 / 5 

Costumo dizer que, apesar da vastidão de ideias e feitos que cruzam a história da música pop (e arredores), há dois períodos invulgarmente férteis em canções e por isso responsáveis por tantas descendências. Sem esquecer a transversalidade e influências semeadas pelas etapas maiores de editoras como a Stax ou Motown, sem ignorar o fulgor que a revolução punk levou à cultura pop nos anos 70, a longevidade ainda hoje vibrante que disco lançou também nos setentas ou o alargamento de horizontes que as culturas house e hip hop permitiram nos oitentas, há dois períodos mais localizados no tempo (e até mesmo em certas geografias) que semearam grandes ideias, nos deram canções inesquecíveis, lançaram carreiras e ainda hoje são matéria prima de reflexão. Um deles corresponde ao que podemos entender como o pico criativo do fenómeno new wave, que podemos localizar entre 1978 e 82. O outro, mais remoto, eclodiu entre São Francisco, Los Angeles e Londres em 1966, com expressões maiores em 67 e ecos ainda visíveis em 68. Falo aqui em concreto do psicadelismo que, geração após geração conquista e seduz, as suas visões de uma pop caleidoscópia e o seu sentido de liberdade e prazer juvenil tendo conhecido posteriores expressões em obras que passam por nomes como uns Stone Roses, Primal Scream, Olivia Tremor Control, Of Montreal ou, mais recentemente, Animal Collective ou Ariel Pink. Nascidos em Weslake Village (uma das muitas “cidades” da grande Los Angeles), os Foxygen são uma dupla de amigos, já com uma mão cheia de singles e EPs numa discografia que em 2012 ensaiou uma primeira abordagem a um formato próximo do álbum (na verdade era mais um EP, mas com sete canções) em Take The Kids Off Broadway, uma tentativa de junção de ideias sob a sua própria produção, em regime lo-fi, mas mostrando já um horizonte vasto de referências (Make It Known, cruzando ecos do Scott Walker dos sessentas com discreto tempero tex mex dava conta de um potencial a desenvolver). Conheceram depois Richard Swift, a quem deram uma demo, a sua entrada em cena para a cadeira da produção garantindo agora ao novo álbum um impressionante passo em frente. Com o longo título We Are The 21st Century Ambassadors of Peace & Magic (que desde logo sugere uma atualização de um ideário comum aos sonhos da geração que viveu o Summer of Love de 67), o disco revela uma banda ainda mais encantada com as referencias que a motiva que com uma eventual busca de um lugar próprio no universo das linguagens da música pop. Na verdade, um passeio entre as nove canções que fazem o alinhamento do disco cruzam claramente ecos dos Beatles (In The Darkness), Lou Reed (No Destruction), Elvis Presley (On Blue Monday), Serge Gainsbourg (Shuggie) ou os Zombies (San Francisco, a pérola pop do alinhamento)... E “saltam” de época, num breve flirt com as sonoridades mais características dos MGMT em Oh Yeah. Não se tratam necessariamente de pastiches, mas de ensaios de assimilação de heranças, como se da soma que faz o alinhamento nascesse um mapa genético que define o universo que os motivam e que aqui celebram. We Are The 21st Century Ambassadors of Peace & Magic pode ser assim ponto de partida para uma demanda que agora pede uma busca interior. Para já há um ponto de vista na abordagem a este universo de referências, instrumentalmente mais arrumado que num Ariel Pink, mais pop que os caminhos ensaiados entre vários projetos da galáxia Elephant 6. Há um saber de recorte clássico na escrita de canções... Há luminosidade (contra a atmosfera tensa que faz o nosso dia a dia)... Há promessas lançadas. Vamos acreditar neles. E esperar que saibam dar um passo rumo a um aprofundar da sua identidade num próximo episódio.