Iniciámos esta semana no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Hoje passam por aqui as palavras de Ricardo Saló, referência maior da crítica musical entre nós, divulgador na rádio (hoje na Antena 2) e autor da compilação 'Sta. Apolónia Soul Station' (2002). Ao Ricardo um muito obrigado pela colaboração.
As minhas lojas mais marcantes foram a Contraverso, a Discoteca do Carmo (a 'little shop of wonders' situada na rua do mesmo nome, por onde entrou, em Portugal, toda a new-wave, mais o John Cale, a Nico e o Eno), as inúmeras lojas que havia na zona da Avenida de Roma, nos anos 60 (marcantes para eu ficar 'lost in music' para o resto da vida), uma inacreditável loja de vão de escada, na Calle dels Tallers, Barcelona, onde um tipo vendia todos os discos que povoavam os meus sonhos (os quais lhe comprei em troca de todo o dinheiro que povoava a minha carteira...), as lojas soul e/ou reggae de Soho, Londres, a Tower Records, de Picadilly (Londres, período 86/89), a Virgin Records, de Tottenham Court Road (Londres 1986), a HMV, de Oxford Street (Londres, de 1989 em diante), uma pequena loja de Times Square (na qual se combatiam, verbalmente, de manhã à noite, duas gerações da música negra, ao nível do pessoal da loja - fanáticos do som clássico da Motown versus gente capaz de morrer pela SugarHill e pela Sleeping Bag) e a loja da Sexta Avenida, onde rebuscava a secção de bandas sonoras e, a dada altura, reparei que a figura que fazia o mesmo, a mau lado, era Sean Connery - 'James Bond is downstairs!', exultavam as empregadas da loja). Disco? Talvez o segundo dos Rockers Hi Fi (Mish Mash).