quarta-feira, abril 03, 2013

Novas edições:
Carla Bruni, Little French Songs

Carla Bruni
"Little French Songs"
Universal Music
3 / 5

Este texto é uma versão alargada de um outro originalmente pubicado na edição online do DN com o título 'O Regresso às origens de Carla Bruni'.

Muito se disse já do novo álbum da cantora que nasceu com apelido Tsdeschi e hoje responde oficialmente como Carla Bruni-Sarkozy mesmo antes das suas canções terem sido tornadas públicas. Já se falou do Le Pingouin que pode aludir à figura do atual presidente francês (que derrotou o marido da cantora, o ex-presidente Sarkozy nas últimas presidenciais), ou nem por isso. Já se levantou a hipótese de Mon Raymond ser dedicatória ao marido... Fez notícia o momento, em plena entrevista, se levantou e saiu quando as perguntas saíram da música para avançar para questões ligadas a Sarkozy... E que tal, agora, ouvirmos mesmo o disco? Sob o título Little French Songs o quarto álbum da ex-modelo e ex-primeira dama francesa é novamente assinado com o seu nome artístico de sempre: Carla Bruni. E depois de uma experiência em língua inglesa em No Promises em 2007, do menos inspirado Comme Si De Rien N'Etait (editado em 2008, poucos meses depois do seu casamento) e de um silêncio musical que manteve desde então, eis que parece querer reencontrar no alinhamento do novo disco a voz, a sonoridade e a simplicidade de arranjos que fez das canções da inesperada e surpreendente estreia de Quelq'un m'a Dit um dos acontecimentos maiores da música em língua francesa depois da viragem do milénio. Estamos por isso num terreno que conhece e onde nos deu o seu melhor disco, a voz e a companhia próxima da guitarra sendo o núcleo de um conjunto de pequenas trovas de alma autobiográfica (notem-se ecos de um encontro com Keith Richards ou todo um rol de recordações que escutamos em Dolce Francia, esta cantada em italiano), observadora ou confessional que acolhem arranjos simples que sabem que ao juntar pouco fazem muito por canções que transportam musicalmente ecos de heranças que tomam Françoise Hardy como possível referência maior num quadro que todavia abre horizontes a outras influências (entre elas as tonalidades mais estivais que habitam Chez Keith et Anita ou uma certa placidez pastoral herdada de ecos folk dos sessentas). Sem causar a surpresa do álbum de estreia (acendendo contudo mais preconceitos pelo facto da cantora hoje ser ex-Primeira Dama, como se esse fosse aqui um valor musicalmente marcante) Little French Songs é todavia o sucessor natural de Quelq'un m'a Dit que nenhum dos seus outros discos quis ser. Canções para um recomeço, Little French Songs retoma um percurso. E se notarmos na forma como assina o disco e no facto de ter uma carreira musical que já seguia em velocidade de cruzeiro antes de ter passado pelo Eliseu, teremos de reconhecer que há aqui uma vida que quer continuar. E se cantar sobre políticos ou pinguins, qual é o problema?