Foi em Berlim que, depois de 1976 e até ao final dos anos 70, David Bowie se reencontrou a si mesmo após uma primeira etapa difícil americana com "casa" em Los Angeles. As Histórias de Berlim de Christopher Isherwood tê-lo-ão atraído para uma cidade onde encontrou uma tranquilidade e anonimato que lhe permitiram uma paz que há muito não conhecia. Teve um apartamento, igual ao de tantos outros berlinenses, na Hauptrasse, frequentava cafés e bares de Kreuzberg, visitava os armazéns Ka De Wee, registava sessões nos Hansa Studios (então com o muro por perto), na zona de Potsdamer Platz, que nessa altura era um descampado e terra de ninguém... Tornou-se num ícone da cidade, a sua passagem breve pelo filme Christiane F, de Uli Edel, assegurando um retrato da forma como os berlinenses então o viam como um dos seus.
Foi nesta etapa que gravou importantes colaborações com Iggy Pop (nos álbuns The Idiot e Lust For Life, ambos de 1977) e criou uma trilogia que fez história, juntando Low (1977), Heroes (1977) e Lodger (1979), discos produzidos por Tony Visconti mas que tiveram em Brian Eno o principal e mais marcante dos colaboradores. Data ainda deste período a digressão Isolar Tour (partes 1 e 2), que seria registada ao vivo no álbum Stage, o seu segundo disco live, editado em 1978. Com o título Zeit! 77-79 (ou seja, "tempo"), uma caixa antológica a editar em maio vai reunir precisamente os seus três discos "berlinenses" e os dois que juntam o alinhamento de Stage. Sinais de um tempo, portanto.