Diferente dos Arcadia e The Devils, acha que o projeto TV Mania foi, das suas aventuras em paralelo, a que mais teve reflexos na música dos Duran Duran? Na produção teve. Por alturas do Medazzaland e do Pop Trash movemo-nos para esses espaços. E esses foram álbuns que produzimos. Creio que os TV Mania propuseram uma música única e diferente de tudo o que tínhamos feito antes. Já tínhamos usado samples de televisão no Liberty. Há um sample no Hothead (de George Bush) e um no First Impressions. Ou seja, já tínhamos trabalhado com samples de televisão. Mas isto é diferente. Era a ideia de fazer canções apenas com samples. Recordo-me do impacto que teve o Fear of a Black Planet, dos Public Enemy, que era um álbum bem à frente no seu tempo na forma como usava samples, não de televisão mas de outros discos, numa miscelânea de temas.
Bored With Prozac and The Internet? conta uma história. Como definiram o conceito? É que falam de uma família cuja vida é vigiada por câmaras que captam imagens que depois são transmitidas pela televisão. Ainda não se falava de reality TV nessa altura... Havia apenas o Real World, na MTV... E não era um programa que acompanhássemos, nem estávamos cientes da sua existência. O que nos motivou foi mais a tecnologia que se estava a desenvolver naquela altura. A Internet era algo ainda incipiente, mas começava a estar disponível... Ainda não havia Napseter, nem partilha de ficheiros e o email era uma coisa relativamente nova. Mas era claro que o futuro passava por ali. Depois havia as noticias que chegavam da industria farmacêutica, com as pessoas a falar sobre o prozac. E ainda os novos sistemas de vigilância, que começavam a estar progressivamente mais sofisticados, com pessoas a instalar câmaras. Londres é uma cidade muito vigiada por câmaras. Quase podemos ver os passos que damos... Estávamos, assim atentos a tudo isto... Depois havia aquela comparação orwelliana ao seu 1984. Mas ao mesmo tempo havia algo de novo ali... Eu e o Warren tivemos então a ideia de criar um musical. E eu lembrei-me de criar esta família completamente disfuncional. São pessoas que, no fundo, refletem partes do que é a sociedade. Uma família disfuncional interessante... E por isso alguém a podia estudar. Assim surgiram os cientistas, que os colocaram num espaço fechado e assim os monitorizavam com câmaras 24 horas por dia. Uma televisão saberia então do que se passava, e mostraria interesse em garantir a transmissão dessas imagens... Isto foi aí um ano antes do Truman Show, antes do Survivor e do Big Brother... Mas havia outras pessoas a pensar o mesmo que nós. Porque era o que estava no ar, era para aí que as coisas iam avançar... O culto da celebridade estava em franco desenvolvimento... E então desenvolvemos um argumento para um show para a Broadway. Mas então estreia o Truman Show... O conceito era semelhante, embora ali fosse a história de um homem que cresce num estúdio... Mas acabámos por arquivar a ideia. Mesmo assim continuámos a trabalhar na música. Era um grande conceito, mas o que entretanto acontecera não afetaria a música.
Ao editarem agora o disco optaram por fazê-lo apenas por download digital e em vinil...
São os formatos em que hoje consumo música. E é tão poético ver este ressurgimento do vinil, até porque é ainda o melhor formato para ouvir música. O som é o melhor! E depois há o regresso ao packaging glorioso que o vinil permite ter. Pegar na caixa em vinil, ou na edição gatefold... É um formato fantástico. Não é que seja pessoalmente contra o CD, mas esse é um formato que está a morrer.
(continua)