Black Box Recorder
“Passionoia”
One Little Indian
(2003)
Um dos mais talentosos autores de canções revelados pelos anos 90, Luke Haines começou por revelar o seu trabalho através dos The Auteurs, banda sonicamente centrada no trabalho para guitarras que se estreou há precisamente com New Age, álbum de estreia que justificadamente cativou atenções. Com o tempo, foi alargando os horizontes e ensaiando outros caminhos, propondo as novas ideias em novos projetos. Um deles, aos quais chamou a colaboração da vocalista Sarah Nixley e do baterista John Moore (que tinha integrado os The Jesus & Mary Chain), apresentou-se em 1998 com o álbum England Made Me, sob a designação Black Box Recorder. Mas ao contrário da experiência que havia proposto em 1996, assinada como Baader Meinhof, Luke Haines deu continuidade ao projeto Black Box Recorder, o trio assumindo mesmo o espaço protagonista da sua atenção após o fim dos Auteurs, em 1999. Editaram então Facts of Life (2000) onde, depois das guitarras do álbum de estreia, se ensaiava uma nova elegância suave com o auxílio das eletrónicas. O tema-título fez-se notar e o álbum também. O mesmo não aconteceria contudo em Passionoia, terceiro álbum do trio, editado em 2003 sob estranho e injusto silêncio mediático. Triste destino para um dos melhores álbuns pop da década dos naughties, herdeiro (tal como os melhores discos dos St. Etienne) de um saber pop made in England que aqui conhece uma das melhores coleções de canções do seu tempo. De novo Passionoia junta ao som dos Black Box Recorder uma vibração dançável mais intensa, valorizando os diálogos entre guitarras, eletrónicas e voz já escutados no disco anterior e mostrando afinidades com caminhos há muito trilhados pela luminosidade da música de uns Pet Shop Boys. Retratos 'brit' do seu tempo, sob um prisma que tanto sabe observar como comentar com algum sarcasmo, as canções de Passionoia refletem também o sentido melómano dos seus autores, com hinos maiores em Being Number One (como é que esta canção não é um hino pop maior?) e, mais ainda, em Andrew Ridgley, que evoca o companheiro de George Michael nos Wham!. Elegante (e a voz sussurrante de Sarah assegura uma certa paz às formas), melodista, garrido e cheio de luz pop, Passoinoia é verdadeiro tesouro a revisitar.