Quantas vezes está um compositor presente nas gravações de obras suas? Nascido em 1916, Henri Dutilleux (um dos grandes herdeiros de Debussy, Ravel e Bartók) marcou presença nas sessões que, sob direção de Esa-Pekka Salonen (um confesso admirador seu), registaram não apenas a esteia em disco do ciclo de canções Correspondances (com a presença sempre magnífica de Barbara Hanningan) e duas outras obras orquestrais, em todos os casos contando com a Orchestre Philharmonique da Radio France.
Depois de um longo período afastado do trabalho de composição para voz (que considera ser todavia o mais belo instrumento de todos), Dutilleux recebeu da Berliner Philharmoniker o pedido de uma nova obra para voz e orquestra, cabendo a estreia (em 2003) à orquestra berlinense, dirigida por Simon Rattle, e contando com Dawn Upshaw como solista. Apesar de “pedir” o título a um poema de Baudelaire, o ciclo Correspondances junta na verdade textos de Soljenitsine, Rilke, P. Mukherjee e Van Gogh. Dois deles são excertos de cartas, a noção de “correspondência” não se esgotando todavia nesse facto, procurando por um lado os textos uma ideia de “correspondências” entre os sentidos e a música uma lógica natural de “correspondência” com os sentidos das palavras.
O alinhamento deste disco junta ainda The Shadows of Time (1997) e o belíssimo Tout Un Mond Lointain (usando também o título de um poema de Baudelaire). Este último, pensado como peça orquestral com violoncelo solista, partiu de um convite de Mstislav Rostropovich feito em 1961, concretizado alguns anos depois, conhecendo estreia mundial no festival de Aix-en-Provence em 1970. Pela música passa a “voz” de um compositor (e os ecos das suas heranças), revelando-se marcas, caminhos e ideias que ajudam a compreender a admiração confessa de Salonen, que de certa forma se projeta na alma de obras como as que recentemente gravou em Out of Nowhere, um dos mais interessantes discos lançados em 2012.
PS. Nota final para a capa. Trabalho notável a mostrar como o universo da clássica mudou significativamente a sua forma de pensar que imagens para que músicas...