Será, talvez, um preconceito da minha parte: o certo é que não consigo ficar indiferente ao escusado "estrangeirismo" de (mais) um disco de jazz que se apresenta sem uma única palavra em português... Enfim, temos os nomes dos criadores: Pedro Sousa (saxofone), Tiago Sousa (teclas) e Travassos (gravações, voz, etc.). E temos o título (da banda e do álbum): Pão (ed. Shhpuma).
Dito isto, e esperando que o desabafo não ofenda ninguém, Pão é um fascinante acontecimento, ao mesmo tempo minimalista e grandioso, contido e intimista, mas também galáctico e sinfónico. Como? E através de quê? Pois bem, seguindo e perseguindo os valores de uma crença radical nas artes frágeis da improvisação — procurando um entendimento da música que se confunde com a criação de um território que, por assim dizer, se vai ampliando à medida que procura reconhecer as suas coordenadas e desenhar o seu mapa. Enfim, uma experiência que se fundamenta em evidentes singularidades de diálogo entre os elementos do trio, ao mesmo tempo que se afirma através de um paciente, elaborado e contagiante universalismo. Maybe in english.