Paul Thomas Anderson não está nomeado pelo filme The Master/O Mentor (estreia portuguesa: 7 de Fevereiro), em que acumula as funções de argumentista e realizador. Envolvido em alguma polémica pelo facto de, pelo menos em parte, se inspirar na figura de L. Ron Hubbard (fundador da 'Cientologia'), o certo é que o filme não terá sensibilizado a maioria dos membros da Academia de Hollywood que, em todo o caso, nomearam os três nomes principais do respectivo elenco: Joaquin Phoenix (para melhor actor), Amy Adams e Philip Seymour Hoffman (ambos nas categorias secundárias de interpretação). O facto merece destaque, por duas razões essenciais:
1) - Anderson é um dos maiores narradores do actual cinema americano, com os seus filmes — Hard Eight (1996), Boogie Nights (1997), Magnolia (1999), Punch-Drunk Love (2002), There Will Be Blood (2007) — desenhando uma paisagem de histórias e personagens cuja modernidade se enraíza numa paciente e apaixonada releitura dos clássicos;
2) - The Master, mais do que um retrato mais ou menos controverso de uma personalidade e da sua entourage, impõe-se como uma extraordinária reflexão sobre a América que nasce após a Segunda Guerra Mundial, ancorada nas convulsões da própria noção utópica de comunidade.Dito isto, convém acrescentar também o seguinte: não se trata de demonizar o cinema americano pelas próprias escolhas da Academia — só mesmo um jornalismo anedótico insiste em celebrar os mais ridículos fait divers dos Oscars, ao mesmo tempo que aplica a palavra "Hollywood" com automático sentido pejorativo. Esperemos apenas pela madrugada de 24 para 25 de Fevereiro: talvez ouçamos o nome do realizador de The Master dito por um dos seus actores, com uma estatueta dourada nas mãos...