Uma harpista italiana apresenta em ‘Metamorphosis & Other Works’ (ed. Amadeus Arte) um disco integralmente dedicado a novas visões possíveis sobre obras de Philip Glass.
Das transcrições para piano de inúmeras obras de Bach (que, por exemplo, Glenn Gould transformou em peças maiores da história da música gravada) às orquestrações de peças originalmente instrumentais (como na célebre abordagem orquestral, por Ravel, de Quadros Numa Exposição de Mussorgsky), a história da música sempre conheceu espaço para o alargamento do espaço de respiração original de uma obra a leituras possíveis por outros ensembles ou mesmo instrumentos. Figura maior da música do nosso tempo, Philip Glass tem uma discografia que há muito transcende o espaço das suas gravações “oficiais”. E cada vez mais são os músicos que gravam obras suas e as apresentam em recitais (sobretudo de piano). Mesmo assim não deixa de ser surpreendente a proposta da harpista Floraleda Saachi, que agora dedica todo o alinhamento de um disco seu a um conjunto de obras do compositor norte-americano.
Não é a primeira vez que a harpista dedica atenção à música de Glass. Floraleda toca regularmente peças de Philip Glass em concertos e recitais desde 2007. Nesse mesmo ano apresentou uma versão de Open the Kingdom, uma das canções do ciclo de 1986 Songs From Liquid Days num disco conjunto com o flautista Claudio Ferrarini e no ano seguinte gravou as várias partes de Metamorphosis (na origem uma obra para piano) em Minimal Harp, um disco laçado pela Decca Classics. Agora dedica todo o alinhamento de um disco seu a obras de Glass. Aqui inclui leituras para peças instrumentais como parte de Metamorphosis, a Opening e Closing de Glassworks, uma transcrição (na origem para piano) de um excerto da banda sonora de As Horas e Modern Love Waltz (criada em 1978, mais tarde tendo conhecido orquestração). Junta depois elementos da banda sonora de Candyman e um tríptico de momentos de Einstein On The Beach, a primeira ópera de Glass. A cor e a sonoridade aconchegada e tranquila da harpa permitem abordagens interessantes e diferentes, nomeadamente face às já conhecidas leituras para piano, acabando o disco de Floraleda Saachi por descobrir novos horizontes numa obra já de si tão versátil nas qualidades tímbricas e cromáticas dos vários instrumentos com os quais Philip Glass tem trabalhado desde meados dos anos 60. No fundo, Metamorphosis & Other Works mostra-nos que há sempre espaço para novos pontos de vista. O que, sobretudo a um espírito aberto e dialogante como é o de Philip Glass, só pode mesmo agradar.
Imagens da harpista a interpretar 'Modern Love Waltz'.