CARTAZ Grande Guerra (1914-18) |
Esta crónica refere-se a "hoje", dia 21 de Dezembro, uma vez que foi publicada nesse mesmo dia, no Diário de Notícias — em causa a encenação (?) televisiva do fim do mundo...
Bem sei que a evocação do calendário maia e o anúncio do “fim do mundo” para o dia 21 de Dezembro de 2012 (hoje!!!) não se esgota no espaço português. Nos EUA, a histeria adquiriu tal dimensão que a própria NASA achou por bem promover um dia de esclarecimentos no Google+, explicando entre outras coisas que, se existisse o lendário Nibiru (um planeta a aproximar-se a grande velocidade da Terra), não só há muito teria sido detectado pelos telescópios, como surgiria como o mais brilhante objecto do céu, logo depois do Sol e da Lua. Além do mais, como recorda Michael D. Lemonick, num artigo da revista Time, o calendário Maia termina no dia 21 de Dezembro para... recomeçar a partir do zero.
O certo é que nada disto impede que, entre especulação “científica” e divagações mais ou menos paródicas, o tema do “fim do mundo” tenha mais espaço televisivo que tanta coisa tão interessante que está a acontecer no nosso planeta.
Para nos ficarmos pelo contexto português, e pensando na área específica do cinema, é extraordinário como a estreia comercial do filme Amor, de Michael Haneke, tem menos presença “noticiosa” que as doutas especulações em torno do calendário maia. É bem certo ganhou a Palma de Ouro de Cannes e os Prémios do Cinema Europeu, perfilando-se como um sério candidato na corrida para os Óscares de Hollywood... Isto sem esquecermos que, entre associações de críticos ingleses e americanos, as distinções acumuladas pelo filme de Haneke já ultrapassam as duas dezenas... O certo é que, em regra, qualquer assalto a uma caixa multibanco consegue maior evidência e mais tempo de antena que um dos títulos mais marcantes da produção cinematográfica europeia dos últimos anos.
E se as notícias do fim do mundo parecem francamente exageradas, o simples gosto de olhar e celebrar a diversidade desse mesmo mundo caminha para um fim patético: a formatação televisiva das linguagens consegue transformar tudo em banalização e saturação, repetição e redundância, vulgaridade e resistência à imaginação. Felizes os maias, que não tinham televisão.