Foto: Orlando Almeida / DN |
Na hora de fazer as contas ficou claro que vi poucos concertos este ano. Muito poucos mesmo. Andei mais pelas salas (e festivais) de cinema, é verdade... Mesmo assim, aqui ficam dez momentos de um ano de música ao vivo que não posso esquecer.
Pop/rock
Andrew Bird
(Aula Magna)
Finalmente em atuação com banda, a sua vinda a Portugal era uma das mais desejadas tanto pelo músico como pela plateia. E ao cabo de duas horas de concerto com aplauso em pé, a sala esvaziou com a sensação de ter assistido a , certamente, um dos melhores (senão mesmo o melhor) concerto deste ano.
Perfume Genius
(SBSR)
Há momentos em que o pouco faz muito. E o que Perfume Genius nos mostrou no concerto que abriu o último dia de atuações no palco secundário foi perfeita expressão desta mesma ideia, o momento, a tamanha intensidade de tanto que brota de quase nada, criando um dos mais belos momentos de palco que vi nos últimos tempos.
Rufus Wainwright
(Coliseu dos Recreios)
Rufus Wainwright passou por Lisboa, para mais um inesquecível concerto no palco do Coliseu dos Recreios. Havia lugares vazios (mesmo estando a sala composta). Todos repararam nisso. E os dias de carteira mais magra não permitiriam outro cenário... Mas Rufus esteve à altura e deu-nos mais um concerto inesquecível.
Leonard Cohen
(Pavilhão Atlântico)
Sabe enganar os 78 anos, cumpridos no passado mês de setembro, não só pelo modo como, pouco depois das nove da noite, entrou no palco a correr ou quase dançou durante as primeiras canções como, da primeira vez que se dirigiu ao Pavilhão Atlântico quase deu a sugerir que esta podia não ser a última vez. Cohen falou até mesmo num futuro possível. Mas ao mesmo tempo sublinhou que nesta noite ia dar aos presentes tudo o que tinha para lhes mostrar. E assim foi.
Peter Gabriel
(SBSR)
A ideia podia parecer o maior erro de 'casting'. Mas afinal resultou em pleno e o concerto de Peter Gabriel, acompanhado pela New Blood Orchestra, foi mesmo um dos maiores momentos da edição 2012 do Super Bock Super Rock. Não só pela afluência de um público maioritariamente mais velho que acorreu ao Meco para o ver. Como pela proposta de reinvenção orquestral das suas canções que, depois dos discos e de três anos na estrada, conheceu aqui o seu ponto final.
Clássica
Thomas Adès / Orq. Gulbenkian
Obras de Thomas Adès e outros compositores
(Fund. Gulbenkian)
É no mínimo um privilégio podermos assistir à história quando ela acontece frente aos nossos olhos. O britânico Thomas Adès foi lisboeta ao longo de alguns dias, num pequeno ciclo que culminou com a apresentação de Polaris: Voyage For Orchestra, uma obra co-encomendada pela Fundação que o compositor apresentou à frente da Orquestra Gulbenkian.
Uri Caine
'Wagner In Venice'
(Fund. Gulbenkian)
Acompanhado por dois violinistas (Pedro Pacheco e Otto Michael Pereira), uma violoncelista (Raquel Reis), um contrabaixista (Marc Ramirez) e um acordeonista (Paulo Jorge Ferreira), Uri Caine (ao piano) fez-nos mergulhar, sem rede, por uma música que parte diretamente de obras de Wagner mas que procura outros caminhos, outras descobertas, outras cores.
Philip Glass e Tim Fainn
(Metropolitan Museum, NY)
O Metropolitan Museum de Nova Iorque juntou-se às celebrações do 75º aniversário de Philip Glass com um concerto no espaço da Sackler Wing junto ao templo egípcio de Dendur (um dos ex libris da vasta coleção ali exposta). O próprio Philip Glass (ao piano) e o violinista Tim Fain foram os protagonistas num programa que teve transmissão em direto na Internet através do site do museu nova iorquino.
Lionel Bringer / Orq. Gulbenkian
Obras de Pedro Amaral, Debussy e Brahms
(Fund. Gulbenkian)
Sob a direção do jovem Lionel Bringuer (na foto), que é maestro residente na Los Angeles Philarmonic, a Orquestra Gulbenkian tomou como “prólogo” à estreia da nova obra de Pedro Amaral uma belíssima e suave leitura de Prélude à L’Aprés Midi d’un Faune, de Debussy. Igualmente sob direção decidida, mas polida, apresentou na segunda parte uma Sinfonia Nº 1 de Brahms
John Nelson / Orq. Gulbenkian
Bach, 'Missa em si menor BWV 232’
(Fund. Gulbenkian)
Sob direção de John Nelson, que fez notar os contrastes entre a exultante presença do conjunto orquestra/coro e os momentos de maior intimidade dos vários instrumentistas nas respetivas contribuições como solistas, e, contando na presença da soprano Johanette Zomer como a mais clara e presente das quatro vozes convidadas, a sala (com palco destapado para o jardim e uma plateia que cruzava gerações) viveu vibrante noite programa inaugural da temporada.