Tim Hecker + Daniel Lopatin
“Instrumental Tourist”
Software / Popstock
4 / 5
Num mesmo ano em que Brian Eno regressa, em Lux, às premissas fundamentais de uma ideia que deu visibilidade a um conceito de música ambiente na segunda metade dos anos 70, a dupla Tim Hecker e Daniel Lopatin (que frequentemente tem gravado como Oneohtrix Point Never), apresenta, em Instrumental Tourist uma expressão diferente de um conceito semelhante, como que sublinhando como, em pouco mais de 30 anos, a criação de sugestões ambientais e texturais alagaram horizontes e continuam a descobrir terrenos. Gravado em três dias, sob estratégias de improvisação – o que traça curiosas afinidades com métodos postos em prática em dois inesquecíveis encontros entre David Sylvian e Holger Czukay – o álbum enceta também o que poderá ser uma série de diálogos através dos quais duas visões, que circulam por espaços próximos, procuram um patamar de desenho comum. Entre o recurso a drones e ecos, moldando ruídos electrónicos e texturas (que uma vez mais demonstram como os trabalhos de eletroacústica Stockhausen na etapa em que compôs obras como Hymnen se confirmam como de profunda influência em gerações posteriores de escultores de electrónicas), sugerindo ténues contornos de paisagens que aos poucos ganham nitidez, as composições ganham por vezes cores ou formas mais evidentes pela presença de linhas, estruturas ou instrumentos adicionais. Como em Vacation (For Thomas Moore), com sugestões de ecos de coros distantes com carga cinematográfica, as marcações mais claras de uma geografia oriental em Grey Geisha ou as aproximações mais diretas às linhas primordiais da música ambiental à la Eno em Scene From a French Zoo. Entre a aparente carga abstracta das formas as viagens traçam contudo um estado de alma assombrado, como se caminhando através de um mundo desencantado. Num dos textos que li sobre este álbum (no Observer, em concreto), falava-se desta como sendo uma música de computadores de corações destroçados. Não podia haver melhor descrição.