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A imagem do feminino? Não: uma imagem do desejo masculino. Provavelmente, podemos enunciar aqui uma lei não escrita da narrativa cinematográfica: filmar uma personagem de perfil é sempre um risco calculado (ou que importa calcular). Porquê? Porque o olhar dessa personagem adquire uma indefinição — para onde é que ele/ela está a olhar? — que é preciso pensar/resolver nas suas consequências dramáticas. Neste caso, o plano de Kim Novak só adquire o seu sentido pleno através do olhar de James Stewart, rasgando um espaço de imponderabilidade que talvez se possa descrever através de uma nova interrogação: o que é que ele vê? Ou ainda: a gratificação inerente à imagem envolve um paradoxo cruel, permitindo-nos compreender que não vemos tudo.