quarta-feira, novembro 28, 2012

Evgeni Bozhanov: a estreia portuguesa

É bem certo que o jovem búlgaro Evgeni Bozhanov (n. 1984) não chegou ao Grande Auditório da Fundação Gulbenkian (27 Nov.) como um desconhecido. Longe disso: afinal de contas, estamos a falar de alguém que, desde que venceu o Concurso Internacional Frédéric Chopin de 1999, em Varna (Bulgária), tem protagonizado uma ascensão tão metódica quanto fulgurante. Seja como for, a estreia portuguesa de Bozhanov envolveu uma revelação essencial: a de um verdadeiro narrador, capaz de sustentar um subtil arco de emoções, desde o dramatismo heterodoxo de Beethoven (Sonata nº 18) ao intimismo dilacerado de Chopin (Sonata nº 3), passando pela "ligeireza" contagiante de Schubert (Ländler).
O terceiro andamento, Largo, da sonata de Chopin terá servido de teste decisivo e inequívoco: uma deambulação interior, filtrada por uma obstinação racional que vai transformando a partitura num exercício de passagem da dimensão física para uma abstracção de tocante serenidade. E não seria fácil contrapor às intensidades da peça inicial de Beethoven (espantoso e "desalinhado" segundo andamento, Scherzo: Allegretto Vivace) toda uma gama de sonoridades que, em síntese, nos deixou um condensado de quatro décadas da primeira metade do século XIX — como uma viagem pelas novas formas de solidão da alma, essas que ainda hoje habitam as nossas cansadas utopias.
Ou como Bozhanov deixou uma marca indelével no ano musical português.

>>> Polonaise, por Evgeni Bozhanov, no Concurso Chopin (2010)


>>> Evgeni Bozhanov no site do Instituto Chopin.