quinta-feira, novembro 01, 2012

Discos pe(r)didos:
Swans, The Burning World


Swans 
“The Burning World” 
MCA Records 
(1989)

Há discos incompreendidos? Peças que, no seu tempo, passam a leste de tudo e todos, eventualmente renegadas até pelos seus autores? Há, pois... E um exemplo podemos encontrá-lo no álbum de 1989 dos Swans, disco que representou a única experiência do grupo no catálogo de uma multinacional, que não deixou satisfeito nem o público nem a editora (que só este ano o reeditou) nem a própria banda. Mas que na verdade está longe de ser um episódio assim tão mau. Pelo contrário, 23 anos depois, está na altura de voltarmos a ouvir The Burning World. Convém começar por recordar que os Swans são um dos nomes nascidos da cena no wave nova iorquina e um nome importante na exploração das estéticas noise. Chegados à segunda metade dos oitentas sentiram a vontade de operar algumas mudanças. Ideias que começaram a explorar em 1987 através do projeto paralelo Skin (nos EUA editado como World of Skin) onde ensaiaram uma aproximação a modelos de instrumentação acústica, seguindo-se a edição, novamente como Swans, de um single com duas versões de Love Will Tear Us Apart (original dos Joy Division), uma na voz de Michael Gira, a outra na de Jarboe. E é depois destas experiências que entra em cena o álbum que hoje recordamos. Claramente diferente dos demais discos dos Swans, o disco aproximou a banda de estruturas mais próximas da canção pop (como o mostra o single Saved) e revelou afinidades com ideias que então ganhavam forma em vários pólos da invenção indie, nomeadamente os terrenos cromática e cenicamente apelativos de alguns projetos centrais da editora 4AD e por nomes seus comporâneos como Peter Murphy, os Shriekback ou a iminente reinvenção em tons mais suaves, de Nick Cave (em The Good Son). A presença de Bill Laswell na produção (nome admirado por Michael Gira, mas cujo relacionamento com os Swans parece ter sido coisa conflituosa) é notória na arte final, sobretudo na criação de algum exotismo de afinidade world music (escute-se por exemplo o clima árabe em Mona Lisa, Mother Earth). A experiência recente via Skin dita ainda importantes opções, como se escuta em temas como I Remember Who You Are ou Can’t Find My Way Home, esta uma versão de uma composição de Steve Winwood originalmente gravada pelos Blind Faith em 1969. Claro e arrumado, sem contudo abdicar das tonalidades melancólicas e das temáticas habituais na obra da banda, The Burning World é, de facto, um episódio sem par na discografia dos Swans, visitando lugares que nem a versatilidade expressa no sucessor White Light From The Mouth of Infinity (de 1991) voltaria a visitar. Está contudo longe, muito longe, de ser o tiro ao lado que as reações a quente, na altura, sugeriam. O disco, que inclui várias referências à obra de Paul Bowles, é uma elegante coleção de canções melancólicas, visitando elegantes caminhos pop algo atmosféricos, mas sem perder as características de uma “voz”. Afastou-os do seu rumo primordial, representando um episódio algo fora da sua zona de segurança. Pode ter causado desconforto. Surpreendido músicos e seus admiradores (habituados a outras ideias). Talvez soe mais a um projeto de Laswell que aquilo que poderíamos esperar nuns Swans. Mas lembremo-nos que, após Children of God, procuravam novos caminhos. Esta foi talvez uma experiência sem consequências maiores na condução de opções futuras. Mas está longe, bem longe, se ser um disco falhado. Pelo contrário, é pérola "esquecida" a (re)descobrir.