Em dois discos um breve panorama pela obra de Hans Wener Henze, que ontem morreu aos 86 anos. Gravações do catálogo da EMI reunidas num volume da série 20th Century Classics.
Não deverá faltar muito tempo para que a “voz” de Hans Werner Henze volte a ser escutada com o protagonismo que lhe é devido. Afinal, foi um dos maiores compositores europeus da segunda metade do século XX e um dos mais importantes autores de ópera numa época em que poucos pareciam acreditar na sua vitalidade. A extensa discografia que o compositor registou no catálogo da Deutsche Grammophon (em alguns casos de peças orquestrais contando com ele mesmo como maestro) deverá justificar, assim espero, uma caixa antológica ao jeito das que a editora tem lançado nos últimos tempos (veja-se o bom recente exemplo de Fischer-Dieskau) que permita assim vida conjunta a gravações que há muito não estão disponíveis (algumas anteriores à era digital). O mesmo se poderá dizer de uma Wergo, em cujo catálogo também identificamos importante representação de gravações de obras do compositor alemão.
Enquanto isso não acontece, e apesar de algumas pontuais edições recentes o manterem presente nos escaparates mais atentos e completos – ainda este ano houve uma edição em Blu-ray de uma produção do bailado Ondine – o disco que mais bem sugere uma ideia de retrato do compositor para os que eventualmente não conheçam é este dois-em-um integrado na série dedicada a figuras do século XX que a EMI Classics tem vindo a construir. O volume dedicado ao compositor alemão junta duas sinfonias, uma terceira peça orquestral e um conjunto de três canções baseadas em poemas de Auden, juntando gravações de três discos editados nos últimos 20 anos.
A Sinfonia Nº 7, que data de 1984 (e aqui encontramos em gravação de 1992 pela City of Birmingham Symphony Orchestra, dirigida por Simon Rattle) tenta responder a uma demanda sobre que caminhos deveria esta forma caminhar rumo a uma nova etapa, servindo o andamento final uma visão de uma Terra deserta, de onde a humanidade desapareceu. A Sinfonia Nº 9, de 1997, (aqui pela Berliner Philharmoniker e o Rundfunkchor Berlin, dirigidos por Ingo Metzmacher) é uma peça ainda mais pessoal, evocando memórias de juventude, com uma dedicatória aos heróis e mártires do anti-fascismo alemão. O alinhamento inclui ainda a Barcarola (de 1979), peça orquestral de pungente carga visual e três canções que Ian Bostridge gravou num álbum dedicado a Henze.