John Taylor, baixista dos Duran Duran, assina as suas memórias “so far” num volume a que dá o título In The Pleasure Groove. Num registo confessional fala de música. Mas também de problemas que enfrentou fora dos palcos.
A narrativa propõe um era-uma-vez cronologicamente arrumado, franco e honesto, recuando aos dia de escola (quando ainda usava óculos e usava o seu nome Nigel), a descoberta da música , os concertos a que assistiu com o colega de escola Nicholas Bates (que hoje conhecemos como Nick Rhodes) e os momentos de estreia como músico quando integrou os Shock Treatment. O livro é particularmente rico em informações sobre o período da criação dos Duran Duran e da progressiva busca de um rumo e de uma formação definitiva (num período de dois anos, entre 1978 e 1980). É igualmente atenta a descrição das memórias da etapa inicial da vida do grupo, sobretudo os acontecimentos de 1981 (da edição do primeiro single e gravação do álbum de estreia até à primeira viagem aos EUA), 1982 (com a criação de Rio, a rodagem dos telediscos que fizeram história e os incidentes na Alemanha que o impediram de tocar em Lisboa) e 1983 (com claros sinais de algum desnorte durante a criação de Seven and The Ragged Tiger). John Taylor explica ainda com cuidado a génese dos Power Station e a necessidade de uma pausa, sem esquecer contudo o momento da criação de A View To A Kill, para o filme de James Bond com o mesmo nome que representou a derradeira ação da formação do grupo antes da sua reunião, longos anos depois.
John dá-nos a noção de como viveu com entusiasmo o reencontro que os conduziu a Notorious (e como então o quinteto foi reduzido a um trio), não perde muito tempo com Big Thing, reconhece os erros na altura de Liberty, lembra o Wedding Album e depois quase secundariza a música para se focar nos problemas pessoais que viveu nos anos 90 (drogas, álcool e questões familiares).
Apesar de retomar algum foco musical na aventura com os Neurotic Outsiders e no reencontro que gerou o álbum Astronaut, o livro deixa muito por contar sobre a sua carreira a solo, a segunda vida dos Power Station, a gravação do álbum Reportage (nunca editado) e até mesmo a criação de Red Carpet Massacre (que dá a entender ter gerado valentes dores de cabeça, sobretudo pela falta de interesse dos media na banda) e até mesmo de All You Need Is Now. Leitura interessante no período 1978/86, que desafie agora o músico (pelo evidente sucesso que o livro está a gerar) a um volume dois que, uma vez “resolvidas” as memórias mais difíceis da sua vida pessoal, nos possa depois contar o era-uma-vez pós-Notorious com a mesma precisão. Se bem que, se algum dia houver uma memória escrita por Nick Rhodes (o único elemento do grupo omnipresente desde a formação da banda, em 1978), esse será certamente o livro a ler...