Patrick Wolf
“Sundark and Riverlight”
Bloody Chamber Music / Popstock
3 / 5
Não têm faltado, este ano, “celebrações” de carreira que optam, em vez da mais tradicional operação best of, pela recontsrução de canções sob novos arranjos para orquestra. Tori Amos assim o fez em Gold Dust. Antony Hegarty, mesmo sem data redonda em agenda, apresentou um disco orquestral. E agora quem entra em cena é Patrick Wolf, propondo num álbum duplo novos pontos de vista sobre canções dos seus dez primeiros anos de carreira. Mas ao invés das outras revisões, pensadas para as potencialidades cromáticas e dramáticas de uma orquestra, a proposta de Patrick Wolf opta por recorrer a um ensemble de câmara. Opção até surpreendente dado o tom grandioso com que tantas vezes encarou os arranjos das mesmas canções que aqui revisita. E confesso que mais depressa o imaginaria a tomar caminos como os que Neil Hannon seguiu com os Divine Comedy numa atuação londrina em meados dos anos 90 que então editou em disco na forma de três versões do single Everybody Knows (Except You). Gravadas nos estúdios Real World, de Peter Gabriel, as canções que Patrick Wolf aqui revisita chegam de todos os seus álbuns e dos EPs Brumalia e Lupercalia, as mais pessoais e melancólicas arrumadas no disco 1, as mais dialogantes e capazes de celebrar o diálogo e a partilha rumando ao disco dois. As leituras mais surpreendentes cabem às memórias do algo desarrumado Lycanthropy. Vulture, originalmente um surto de angulosidade e pujança eletrónica, surge irreconhecível (não necessariamente melhor que a versão original, entenda-se). Os melhores instantes resultam contudo de colheitas apontadas a canções na sua origem mais próximas do modelo da balada (ou que caminham nas suas periferias), como é o caso de Bluebells, as transformações de Teignmouth ou de Overture estando ainda na lista dos momentos de maior brilho deste alinhamento. Pelo contrário, toda a intensidade dramática de um The Libertine, Hard Times ou a vibração pop de Magic Position ou Together perdem perante o regime de dieta proposto. Na verdade, Sundark and Riverlight parece mais um interesante programa de concerto que um álbum de feitos conquistados. É verdade que o desafio da contenção “de câmara” pode ser proposta mais estimulante para quem transforma e ideia maios exequível em eventuais concertos (viajar com orquestra, sabemos, é caro). O lote de canções não deixa dúvidas sobre o facto de termos em Patrick Wolf um dos mais interessantes cantautores da sua geração. Mas esta revisão de arranjos teria ganho substancialmente se outra teatralidade morasse em algumas destas versões. Faltou a orquestra.