segunda-feira, outubro 22, 2012
O melhor Tim Burton dos últimos anos
Há um subtexto que parece coisa quase de mitologia pop na génese do novo filme de Tim Burton. O negrume assombrado da curta-metragem de imagem real que, em 1984, mostrava a história de um menino que recusava a morte do seu cãozinho e, como Mary Shelley mostrara em Frankenstein, o devolve à vida com a ajuda de uma descarga elétrica em noite de temporal, levou a Disney a afastá-lo... Ironia do destino, ou mais friamente a força dos dólares (já que Tim Burton se transformou entretanto num dos “autrores” de bilheteira mais bem sucedida de Hollywood) traz agora à Disney um remake, em versão extended remix, desse mesmo filme. E com o mesmo título: Frankenweenie.
O ponto de partida para a história é o mesmo. Mas mais ainda que no filme de 1984, Tim Burton projeta agora nesta versão longa (em animação stop motion, a preto e branco e 3D) ainda mais marcas de identidade, de referencias formadoras (que passam por citações algo fáceis de detetar entre a memória da filmografia do fantástico série B a Z dos anos 30 a 50) a uma ligação mais que nunca evidente ao seu traço como desenhador. Mais ainda que em A Noiva Cadáver, as personagens de Frankenweenie revelam afinidades com as figurinhas docemente horripilantes que sempre desenhou e que recentemente geraram uma exposição inesquecível no MoMA (que este ano passou pela Cinemateca de Paris).
Lúgubre e assombrada a ação decorre numa cidade que em tudo lembra o subúrbio onde o realizador cresceu e que de certa forma já evocara em Eduardo Mãos de Tesoura. O cãozinho-frankenstein é de resto um parente próximo desse seu já clássico herói, revisitando a ideia do corpo diferente, rapidamente marginalizado pela populaça em fúria. Com valor acrescentado (desta vez) na figura de um professor de ciência que reforça a visão do preconceito como espelho de ignorância.
Tim Burton é magistral na forma de encontrar uma linha narrativa complementar à da história original, respirando o Frankenweenie de 2012 uma vida própria. E afirmando-se como o seu melhor filme dos últimos tempos.