Para onde vai o cinema das sequelas? Como funciona (ou pode funcionar) um cinema que, apesar dos talentos que envolve, se instala na repetição de fórmulas já testadas? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (20 Outubro), com o título 'Filmes que "imitam" filmes'.
Para o melhor e para o pior, a prática das sequelas passou a ser uma linha de força de diversas estruturas de produção (e difusão). E importa não favorecer o tradicional anti-americanismo primário: é verdade que, na idade dos blockbusters, Hollywood se especializou em tentar prolongar ad infinitum determinados sucessos de bilheteira... mas não é menos verdade que a indústria europeia nunca se mostrou estranha a esse género de práticas.
A nova aventura de Astérix e Obélix (quarto filme com actores depois de uma época em que as personagens de Goscinny e Uderzo marcaram presença nos desenhos animados) aí está como exemplo esclarecedor. Mais do que isso: com um orçamento superior a 60 milhões de euros, Astérix e Obélix ao Serviço de Sua Majestade perfila-se como uma das mais arriscadas apostas da recente produção francesa, aliás apoiada na sofisticação técnica dos respectivos estúdios.
Estas contas nada nos dizem sobre os resultados. Mas são dados que não podem ser dissociados das muitas fraquezas de Astérix e Obélix ao Serviço de Sua Majestade. Claro que encontramos algumas deliciosas interpretações, incluindo o inevitável Gérard Depardieu (eterno “duplo” de Obélix) e Catherine Deneuve (compondo uma rainha de elegante burlesco); mesmo uma certa “neutralidade” de Edouard Baer (pela primeira vez como Astérix) não compromete. Há até algumas cenas visualmente grandiosas, incluindo a chegada dos navios romanos às costas britânicas. Seja como for, a sensação que fica é menos a de uma procura dos sabores do espectáculo e mais a de uma crença ingénua (?) na “imitação” dos filmes anteriores. É um erro que não se pode definir em termos europeus ou americanos. Reflecte apenas uma forma equívoca de entender os poderes de encantamento do próprio cinema.