quinta-feira, outubro 25, 2012
007 - Missão Bodas de Ouro
O agente 007 tem 50 anos. E o James Bond que Daniel Craig veste em 007 Skyfall está ciente desse peso. De resto, a noção de envelhecimento assombra todo o filme, talvez o mais realista, auto-crítico e pungente que o agente protagoniza em muitos anos. Em ano de efeméride a assinalar, o filme mostra a consciência de um legado que tem a celebrar e são por isso inúmeras as situações em que afloram citações e referências a episódios anteriores, seja num regresso a Istambul (onde decorre parte determinante da ação de From Russia With Love, de 1963) ou em pontuais gags muito na linha das que Roger Moore usou para caracterizar o tom mais bem humorado do seu Bond.
Mas 007 Skyfall é bem mais que apenas uma galeria de momentos para “trainspotting” por aficionados de longa data. Pelo contrário, é um filme que vive e respira por si, mesmo estando ciente de toda uma mitologia e características visuais e narrativas que não deve descuidar. Podemos descrever mesmo este novo filme como um “Bond de autor”, a presença de Sam Mendes na cadeira da realização tornando-se evidente no modo como se transforma o que poderia ser apenas uma empolgante narrativa de ação num momento de grande cinema. A sequência de luta num prédio de Xangai, entre a escuridão e os néons que definem linhas de luz, deve ser das visualmente mais belas de toda a série de filmes com o agente 007. E o saber no estabelecimento de uma cadência tudo menos ofegante (mas sem prescindir da velocidade quando necessária) abre espaço a uma série de olhares sobre as personagens como poucas vezes vimos em filmes de James Bond.
Longe de um tempo em que a guerra fria dominava o mapa geopolítico mundial (e na qual nasceu 007) o novo filme encontra outros focos de ameaça. E faz do conflito de gerações um motor de conflitos que alimentam a fornalha da narrativa. Magnificamente fotografado, com uma banda sonora notável criada por Thomas Newman (que assim sucede a David Arnold), 007 Skyfall é um dos melhores filmes de sempre da série James Bond. Aos 50 anos, pelos vistos, está de melhor saúde que nunca.