Mike Oldfield
“QE2”
Mercury / Universal
2 / 5
Há discos de transição que acabam arrumados numa certa terra de ninguém, nem tanto ao mar nem tanto à terra, perdidos entre o ténue ensaio de novas ideias e a vontade em não abdicar das antigas... Apesar de ocasionais momentos interessantes, o álbum de 1980 de Mike Oldfield foi uma experiência falhada, que transporta um pouco desta alma dividida, não optando nunca por tomar caminhos, tentando antes andar um pouco por todos ao mesmo tempo. É claro que só se podia perder nesse labirinto que ele mesmo criou. O anterior Platinum (1979) já havia ensaiado um modelo de fuga às composições longas de alma sinfonista dos dias de Tubular Bells e Incantations, mas mesmo assim os quatro temas do lado A do álbum construíam uma suite. Em QE2 Mike Oldfield aproxima-se dos formatos de duração da “canção” pop, transcendendo o espaço dos quatro minutos em apenas dois temas, nenhum deles chegando aos onze... É contudo nesses dois temas que a sua música respira, a composição de alma sinfonista, que evita os modelos de repetição de módulos da canção revelando um sentido plástico mais elaborado (e de alma prog) que Oldfield sempre trabalhou e fora do qual, tirando pontuais canções, nunca brilhou. Taurus I enceta uma série que teria resolução de maior fôlego no seguinte Five Miles Out. Já o tema título herda o interesse pela exploração de ideias escutadas entre os minimalistas, acabando contudo por juntar tantos condimentos (o que faz ali a música celta?) que torna o resultado final coisa com o sabor de medley que não sabe para onde quer ir... Depois há umas composições menores, de alma mais pop, ora citando Bach (como em Conflict) como ensaiando o potencial de novas tecnologias, juntando ainda, a momentos, percussões africanas e a bateria a cargo de Phil Collins. E com cereja (pop) do bolo numa versão (pouco inspirda) de Arrival dos Abba e uma outra de Wonderful Land, dos Shadows. As guitarras e instrumentos mais convencionais partilham espaço com sintetizadores e vocoders. A voz surge em primeiras sugestões de ideias que concretizaria melhor (novemente) em Five Miles Out e Crisis. Pedido entre uma identidade prog e uma vontade em explorar a música pop, QE2 soa a mais dúvidas que certezas, as respostas tendo chegado mais tarde, nos discos seguintes, deixando este com o sabor a ensaio de algo que não se concretizou em pleno. Nesta nova reedição (entre nós não saiu a versão com um CD ao vivo extra) juntam-se dois lados B e uma nova e inconsequente abordagem a Sheba (como Shiva)...