sexta-feira, agosto 31, 2012

Nos 25 anos de 'Bad'


30 de agosto de 1987, hora do jantar, mais coisa menos coisa... Estava então em Filadélfia. A cidade preparava iniciativas para assinalar os 200 anos da constituição. Esperava-se (chegaria daí a um mês) pelo regresso aos pequenos ecrãs de Star Trek, no primeiro episódio da Next Generation, que iniciaria uma vida de sete anos no pequeno ecrã em finais de setembro. Contavam-se os dias para o concerto dos U2 (e compravam-se já os bilhetes para a visita dos Depeche Mode, daí a alguns meses, para atuarem igualmente no Spectrum)... Mas naquela noite o protagonisra e centro das atenções era outro. Com um teledisco criado por Martin Scorsese, que mais parecia um pequeno filme, Michael Jackson surgia nos pequenos ecrãs de televisão ao som de uma nova canção. É claro que algum tempo tinha sido editado Farewell My Summer Love, o álbum com inéditos recuperados do seu tempo na Motown e pelo caminho Michael tinha-se reunido aos irmãos para um último disco dos Jacksons... Mas anunciava-se o lançamento do seu primeiro álbum desde Thriller. Tal como a canção que Scorsese levara ao teledisco que a TV mostrou em prime time, o álbum chamar-se-ia Bad... E no dia seguinte, 31 de agosto (faz hoje 25 anos) poucos eram os que no metro, à hora de regressar a casa ao fim de dia, não levavam consigo um embrulho com o formato de um álbum de vinil...

Juntamente com Off The Wall (1979) e Thriller (1982), Bad completou então uma trilogia na obra de Michael Jackson que, com a produção (e visão) de Quincy Jones, o elevou de promissora voz de sucesso nos espaços do rhythm’n’blues e dele fez a maior estrela global da música pop. Há alguns dias Christopher Nolan sugeria, a caminho da estreia do seu mais recente Batman, que raras são as trilogias em que o terceiro capítulo gera algo de mais marcante (ou consegue mesmo ser melhor) que os dois anteriores... E basta lembrarmo-nos de A Guerra das Estrelas ou Indiana Jones para lhe darmos razão (até o terceiro O Senhor dos Anéis, que foi o que brilhou nos Oscares corresponde à regra: o primeiro é o melhor da série). Mais distante dos caminhos soul e de genética assimilada do funk de Off The Wall, Bad de facto segue em frente segundo a opção pop que Thriller vincou. Mas em nada é um baixar de braços, uma vez que não só junta mais uma mão cheia de magníficas canções, como indicia caminhos futuros (escute-se Speed Demon ou Another Part of Me e reconheça-se um interesse que o conduziria ao swing beat que afloraria mais evidente em Dangerous). Em Bad abre espaço a uma sequência instrumental de alma jazzy... Já em Dirty Diana ensaia um diálogo com guitarras rock que retomaria em Black or White (não sendo, contudo, a sua zona de conforto). Mas é claro que Smooth Criminal é uma sequela de Wanna Be Sartin’ Something e baladas como Liberian Girl e I Just Can’t Stop Loving You seguem os mesmos caminhos das que escutávamos em Thriller.

Como nos conta Quincy Jones nos extras de uma reedição de Bad, o disco nasceu de um dueto com Prince que foi idealizado, tentado, mas não se concretizou... Mais sorte teve o produtor quando “arrancou” Scorsese da sala de montagem onde estava a trabalhar em A Cor do Dinheiro, dizendo-lhe que precisava dele por quatro dias, levando-o para Nova Iorque para realizar o teledisco.

Longe de ser o álbum mais-do-mesmo que muitos ali teimam em ouvir, Bad é o espaço de confirmação da opção pop que o disco de 1982 lançara. Vale a pena reouvi-lo e reconhecer aqui um dos títulos (no seu todo) mais importantes da obra de Michael Jacskon... E, já agora, ficamos à espera do filme Bad 25 que Spike Lee hoje estreia em Veneza.


Imagens de algumas das capas que ajudaram a fazer a história de Bad a 45 rotações. É que, entre I Just Can’t Stop Loving You (editado ainda antes do lançamento do álbum, em julho de 1987) e Speed Demon (um 'promo' que chegou ao formato a 45 rotações em outubro de 1989), foram ao todo 10 os temas de Bad com edição em single. Do alinhamento original do vinil (o CD juntava Leave me Alone, da banda sonora do filme Moonwalker, como extra), só Just Good Friends ficou por editar a 45 rpm.