Blur
"Think Tank"
Food / EMI Music
5 / 5
A pausa tinha sido longa. Nunca tão longa como esta. Na hora do reencontro rumaram a Marrocos para gravar. Graham chegou mais tarde, mas acabou por ficar de fora. Mas entre novos desafios, heranças de experiências recentes e um clima diferente acabaria por nascer o melhor álbum dos Blur. O último? Pelo menos assim o é desde 2003...
O renascimento criativo dos Blur é notório depois da “libertação” do espartilho em que se tinha transformado a relação da banda com o fenómeno brit pop. Após 13 fez-se silêncio e todos ocuparam os tempo com outras experiências. Herdeiro direto de sugestões nascidas durante as sessões do álbum de fim-de-século, os Gorillaz tornam-se na mais visível das experiências nascidas nesse período. Mas na hora do reencontro não é nem por aí nem pelos caminhos entretanto visitados pelos outros músicos durante a pausa que os Blur renascem. No booklet da reedição Damon explica que a ideia de fazer um novo disco de Blur era a última coisa na sua mente... Parecia uma obrigação a cumprir. Sim ou não, o certo é que meteram mãos à obra e, com novos produtores a bordo (Ben Hillier e Norman Cook), rumaram a Marrocos para trabalhar uma nova mão cheia de canções. Acontece que (por estar em reabilitação), Graham não estava por lá quando começaram. Numa semana tinham já várias canções bem definidas, entre as quais Out of Time, gravada num take direto, ao vivo em estúdio. Segundo recordam a chegada de Graham não resultou da melhor forma. E, deja como foi que aconteceu, o certo é que ficou de fora. Think Tank é assim um álbum não apenas a três, como o único disco dos Blur criado sem a presença ativa de um guitarrista (Damon fez as honras), o que terá certamente contribuído para a sugestão de outros caminhos... Apesar de não fechados a um só caminho, os Blur não repetem aqui a dispersão de ideias e soluções de 13, acabando por definir uma certa coerência que molda o álbum e lhe dá uma personalidade consistente. Mesmo entre extremos, como a fragilidade acústica de Out of Time ou Sweet Song (onde o ausente Graham pode ser entendido como o destinatário das palavras de Damon) e a carga angulosa e processada de Crazy Beat, Think Tank mostra uma banda que, sem perder personalidade, aceita o desafio de se transformar e, uma vez mais, se reinventar. Sente-se a vontade em experimentar ideias, juntando mais que nunca electrónicas, mas também outros instrumentos, os cenários locais não sendo ignorados, como se escuta, por exemplo, em Out of Time, a descoberta de outras músicas africanas passando também por aqui. Longe dos olhares sobre o mundo da classe média brit que haviam começado a tatear dez anos antes e sem o foco tão profundamente pessoal que se afirmara entre Blur e 13, Think Tank é um disco do seu tempo, atento ao mundo e com vontade de sobre ele refletir, todavia sem panfletarismos ou os mais clássicos mecanismos da canção “política”. Quis o tempo que se seguiu (e já lá vão nove anos) que os Blur entrassem num pousio. Dele saíram apenas para alguns concertos. E para dois singles, um em 2009, o outro lançado há poucas semanas. E agora, como é?
A reedição junta ao álbum os lados B da época, onde se alarga o espectro dos horizontes das ideias ensaiadas em estúdio nestas sessões. Há ainda um single lançado para o clube de fãs e um outro editado com uma edição do Observer, bem como uma sessão para a XFM (a inglesa, pois...).