Blur
“Blur”
Food / EMI Music
4 / 5
Farto do clima ao seu redor, da euforia brit pop e daquilo em que os Blur se estavam a transformar, Damon Albarn fez um dia as malas e rumou à Islândia. Três dias depois contactava Alex James, o baixista. Dizendo o melhor possível do que ali encontrara, pedindo-lhe que fosse ter com ele...
Era preciso mudar. E no booklet da reedição de Blur, Dave Ronwtree confessa que, a dada altura, Graham Coxon queria fazer um disco que ninguém quisesse ouvir. Coisa que, acrescenta, seria sempre algo impossível numa banda com um compositor de canções como é Damon. Mas, ao que parece, Graham chegou a escrever uma carta ao vocalista, onde lhe explicava que queria fazer música para assustar as pessoas; em particular as adolescentes aos gritos que nos últimos tempos eram quem estava pela sua frente, nas primeiras filas dos concertos. A vontade de mudar de rumo, procurar novos horizontes e desafios era, no fundo, partilhada pelos quatro. E mãos à obra... Damon explicou já em palavras suas que é mais um escritor de canções que um pensador dos sons... Esse é mais o terreno de Graham... E foi em equipa, com algumas sessões registadas na Islândia, outras em Londres, que um novo disco ganhou forma. As palavras olhavam menos para o espaço à sua volta, mas antes para a expressão de algo mais pessoal. A música escutava ecos de ideias vindas da cultura indie do outro lado do Atlântico (dos Pavement muito se falou logo por alturas da edição do disco). E de repente tudo parecia diferente. Coube a Beetlebum o papel de ser o cartão de visita para um disco editado em 1997 ao qual, sugerindo uma ideia de renascimento e de recentrar de ideias numa ideia mais primordial do que queriam ser, chamaram muito simplesmente Blur. Mas apesar do número um britânico com esse primeiro single, foi o segundo, Song 2, quem fez história, abrindo-lhes de vez as portas à América... O álbum revela uma banda sólida no saber da escrita de canções, mas claramente entregue ao desafio de reinventar as suas formas, em temas como Death of A Party ou Country Sad Ballad Man sentindo-se sinais de abertura a ideias que dariam frutos mais profundos em álbuns seguintes. Mais que um destino alcançado, Blur é um ponto de viragem nas agulhas que definem os azimutes de um rumo. “Salva” a banda do destino de bibelot a que a condição de heróis brit pop os poderia votar. Abre mais que nunca o gosto pela experiência de novas formas e o ensaio de novos sons... E sugere rumos que, pouco depois, os levariam aos seus dois maiores feitos musicais.
A reedição acrescenta, no CD2, a dose habitual de lados B de singles onde, além de algumas gravações ao vivo, há a destacar o início de uma relação mais interessante do grupo com as dinâmicas e mecânicas da remistura (e das potencialidades de expansão de horizontes que permitem perante o desafio a outras colaborações).