Propaganda
“Wishful Thinking (DeLuxe)”
ZTT Records / Slavo
3 / 5
Ao longo dos anos, e em função da sucessiva passagem da propriedade dos direitos da velha editora criada por Trevor Horn, a política de reedições do catálogo da ZTT Records (Zang Tumb Tumb, precisamente citando o velho poema sonoro de Marinetti) tem vindo a focar essencialmente atenções nos títulos mais marcantes do seu catálogo (que é como quem diz os Frankie Goes To Hollywood e os Art of Noise, eventualmente o álbum de estreia dos Propaganda), as sucessivas campanhas de reedições pouco indo além da face mais canónica da sua memória. E a verdade é que convém recuperar peças determinantes da história de uma face que podemos descrever como mais aventureira e, de certa forma, “alternativa” do panorama da pop de meados dos oitentas e que teve na ZTT um importante pólo de ação. Recentemente a obra em álbum dos 808 State (que cruza finais dos oitentas e inícios dos noventas) conheceu devida atenção. Não era má ideia que, a seu tempo, esta agenda de reedições recuperasse títulos de Anne Pigalle ou Grace Jones que moram na sua história. Por agora assinala-se a reedição de Wishful Thinking, um álbum de remisturas dos Propaganda lançado em 1985 (e que encerraria a etapa de vida da banda nesta editora). O disco foi então coisa inesperada. Pensado como ferramenta promocional destinada ao circuito dos DJs norte-americanos, Wishful Thinking acabou por ganhar forma e conhecer edição oficial sem qualquer contribuição da banda. O grupo, que meses antes havia lançado em A Secret Wish um dos maiores monumentos de uma ideia de pop electrónica com alma sinfonista muito cara ao livro de estilo da ZTT Records, viu alguns dos temas do seu álbum de estreia serem repensados arquitetonicamente (em alguns casos com soluções bem interessantes), a seleção do alinhamento cabendo diretamente a Paul Morley (um dos responsáveis da editora) e ao produtor Bob Kraushaar. De realmente novo surgia apenas Thought, uma remistura da mistura de uma ainda inédita versão de Discipline, dos Throbbing Grislte. Os quatro elementos do grupo não viram com bons olhos o lançamento do disco na Europa, mas a edição seguiu em frente. Seguiram para a estrada e, algum tempo depois, a saída da vocalista Claudia Brücken (uma das almas do som visceral do grupo) encerra um capítulo na sua história. Regressariam mais tarde, já noutra editora e com outra formação, num álbum medíocre que em nada traduz a expressão da visão desta outra etapa que, de certa maneira, teve neste disco de remisturas um epílogo. A presente reedição junta ainda novas remisturas inéditas que, sem acrescentar muito à história, servem o apetite colecionista dos admiradores do grupo.