sexta-feira, julho 06, 2012
Paramount 100:
'Sunset Boulevard' (1950)
Na verdade já tínhamos visto aquele “filme”, mas em bom... A história de uma estrela do cinema mudo que desaparece quando o som chega a cena pode ter entusiasmado muito boa gente no pastiche bem emoldurado (mas vazio) que foi O Artista, que tantos e tantos prémios arrecadou este ano. Mas num quadro mais elaborado e bem contextualizado, com interpretações de excepção e um saber de quem experimentou essas memórias, O Crepúsculo dos Deuses (1950) é mesmo um dos mais intensos olhares do cinema sobre si mesmo alguma vez realizados.
Realizado e co-escrito por Billy Widler, O Crepúsculo dos Deuses – no original Sunset Boulevard, um título com jogos de sentidos que passam pela sugestão de uma rua em Los Angeles, mas também uma noção de ocaso – acompanha o despertar de uma antiga estrela do cinema mudo, eclipsada pelos talkies, e que projeta um regresso... As relações com a memória da Hollywood de outros tempos não se esgotam contudo na narrativa. O realizador Cecil B. DeMille surge nas imagens interpretando a sua própria figura. O realizador austríaco Erich von Stroheim (com obra que remonta a 1912) interpreta o mordomo/chauffeur da protagonista. E esta ganha vida através de uma das mais históricas interpretações de Gloria Swanson, ela mesma uma antiga estrela do cinema mudo (mas com carreira de sucesso na transição para o sonoro). O seu olhar para a câmara na mítica cena em que desce as escadas de sua casa e diz "All right, Mr. DeMille, I'm ready for my close-up" ganhou um lugar na história do cinema.