sexta-feira, junho 22, 2012

Ronaldo & Messi: que redes sociais?

I - Leio no jornal A Bola esta espantosa notícia: "Polémica em torno das celebrações de Ronaldo (com video)". O assunto repete-se no Record, com este título: "Até na dedicatória de Ronaldo "viram" Messi". Aliás, não será arriscado imaginar que a história se estará a repetir ad infinitum...

II - Que está em causa? Uma série de especulações surgidas nas redes sociais, insinuando que, ao comemorar o seu golo no Rep. Checa-Portugal (0-1), Cristiano Ronaldo não o dedicou apenas ao seu filho — teria também pronunciado a palavra "Messi"...

III - Há na futilidade de toda esta especulação um sintoma esclarecedor das lógicas informativas & mediáticas que dominam o nosso dia a dia. E não tem nada a ver com Ronaldo, Messi ou qualquer factor futebolístico. Tem a ver, isso sim, com a vocação policial que é atribuída, porventura auto-atribuída, a algumas (sublinho: algumas) variações das chamadas redes sociais.

IV - A questão é: redes sociais de que sociedade?

V - Pois bem, de uma sociedade que apenas concebe a sua rede — logo, as suas relações — como um sistema de vigilância mútua em que qualquer ser humano, pelo simples facto de gerar mensagens, se torna automaticamente suspeito. No limite, como se prova, o esgar de contentamento de um jogador de futebol pode servir para tecer as mais disparatadas considerações sobre a sua estatura moral.

VI - Mas há mais: as próprias redes sociais são, muitas vezes, referidas como um instrumento automático e inquestionável de "verdade". Não se diz, por exemplo: alguém (uma pessoa, duas pessoas, milhões de pessoas...) disse algo de concreto sobre um evento igualmente concreto... Apenas se lança a palavra de ordem: está nas redes sociais... E porque está nas redes sociais é suposto ser tratado como um fenómeno a que todos nos devemos submeter, ou uma directriz de pensamento que todos devemos acatar.

VII - Perversamente, num tempo de histérica "personalização" (desde os cartões de crédito até às t-shirts), tudo isto reflecte uma violenta despersonalização do ser humano, servida com o ar de coisa cândida e natural — está nas redes sociais... quer dizer, parem de pensar, sigam o rebanho.