Fotografada por Steven Meisel, Madonna impôs na capa do seu segundo álbum de estúdio, Like a Virgin (1984), e também no teledisco da canção-título, uma revolucionária inversão simbólica da iconografia feminina: a roupa interior transfigurava-se em guarda-roupa exterior, sancionado pelos valores do entertainment. A sua indumentária, misto de provocação e desarmante candura, entrou no imaginário pop das últimas décadas, com muitas recriações, incluindo no universo da própria Madonna — por exemplo, pela sua filha, Lourdes Maria (nascida em 1996), no teledisco de Celebration (2009).
Agora, em Tel Aviv, no concerto de abertura da MDNA Tour, surgiu uma nova encenação da mesma canção. E as diferenças coreográficas e simbólicas, patentes nestes dois videos, são significativas. Assim, nos MTV Awards de 1984 (14 Setembro - Radio City Music Hall, Nova Iorque), Madonna encena-se como uma noiva exuberante, quase burlesca, afinal solitária; agora, no concerto da nova digressão (31 Maio 2012), a brancura das vestes deu lugar a uma intimidade de cor negra, por assim dizer confirmada pelo ritual imposto por uma figura masculina [registo amador, qualidade sonora deficiente].
Em qualquer dos casos, a imaginação da personagem oferece-se como um jogo lúdico que, como sempre, deixa incólume a identidade da performer — fala-se, aqui, de uma virgindade figurativa, serenamente liberta da severidade do tempo acumulado. É também uma maneira de envelhecer.
Em qualquer dos casos, a imaginação da personagem oferece-se como um jogo lúdico que, como sempre, deixa incólume a identidade da performer — fala-se, aqui, de uma virgindade figurativa, serenamente liberta da severidade do tempo acumulado. É também uma maneira de envelhecer.