terça-feira, maio 22, 2012

Tanto vento para nada...


Regressar a um clássico sobre um outro olhar é um desafio. E foi um desafio o que Andrea Arnold imaginou para um reencontro do grande ecrã com O Monte dos Vendavais, o único romance assinado (em 1847) por Emily Brontë que já conheceu tantas outras adaptações para cinema e televisão, mais uma ópera e até uma canção pop (o single Wuthering Heights, o primeiro de Kate Bush).

A realizadora projeta a história no seu tempo histórico, num lugar desolado, fustigado pelo vento constante e por chuvas intermináveis, turfeiras e montes servindo o olhar da câmara que, sobretudo na primeira metade do filme, divide a sua atenção entre o acompanhar na narrativa e a contemplação do espaço (conciliando um certo encanto naturalista com a sugestão de desconforto húmido e frio que a vida naquela paisagem naturalmente suscita). O trabalho de fotografia, câmara à mão, movimentos e enquadramentos nada canónicos, fazem o valor acrescentando ao arranque de uma história onde a “novidade” é mesmo a forma de a olhar e não a “troca” do Heathcliff de Brontë (um cigano de pele escura) por um negro, o preconceito habitando à mesma na evolução de uma história de um amor impossível entre a filha de um camponês e o rapaz que este um dia encontra perdido, leva para casa e resolve educar como um filho, sob evidente desconforto do irmão mais velho, merecendo contudo a atenção da filha Catherine, com quem nascerá um encanto obsessivo que irá bem para lá de qualquer ideia de amor fraternal.

Se a forma de trabalhar a direção de fotografia e até mesmo a presença com invulgar protagonismo dos cenários marca o espaço de desafio deste Monte dos Vendavais – e o junta, de certa forma, a uma nova forma de entender “retratos” de época como recentemente vimos em O Atalho de Kelly Reichardt ou em Les Chants de Mandrin, de Rabah Ameur-Zaïmeche, que passou recentemente no IndieLisboa – a excessiva duração do filme (garanto que parece ter mais do que os 129 minutos nos faz sentar na cadeira da sala de cinema) e uma monótona segunda parte, que quase “esquece” as premissas visuais da primeira, transforma a ventania que parecia capaz de sacudir ideias num temporal que perde o norte ao vento. E acaba sem soprar nada...